A presença de duas presidentes, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, na ala de mandatários das cerimônias fúnebres de Hugo Chávez sintetiza um dado positivo na paisagem política da América Latina: a redução do abismo na participação de homens e mulheres em funções de governo. Há pouco mais de dois anos, quando os chefes de Estado do subcontinente se reuniram na Casa Rosada, em Buenos Aires, para o funeral do ex-presidente Néstor Kirchner, sua viúva, Cristina, era a única representante do sexo feminino no grupo. Desde a metade da década passada, cinco países da região Chile, Argentina, Costa Rica, Brasil e Jamaica foram ou são governados por mulheres.
Em entrevista a Zero Hora no final de fevereiro, o filósofo esloveno Slavoj Zizek lembrou que, nos países da antiga Cortina de Ferro, as mulheres costumavam ocupar sempre os mesmos ministérios: Educação, Cultura e Assuntos Sociais. Assim, sob a aparência do combate ao preconceito, implementava-se uma prática conservadora. Se esse cenário for tomado como parâmetro, a América Latina pode se considerar em vantagem. Nos últimos anos, não apenas a participação de mulheres nos ministérios como um todo avançou, como foi particularmente incrementada em pastas como Defesa e Economia, tradicionalmente masculinas. Nos parlamentos, as mudanças são mais lentas, mas também visíveis.
Para alguns e algumas, o fato de um país ter uma presidente pode parecer meramente simbólico. No caso da América Latina, porém, esse simbolismo tem especial relevância. A região continua sendo uma das mais desiguais do mundo, mas a maioria dos países latino-americanos ratificou o protocolo facultativo da convenção da Conferência sobre a Mulher de Pequim (1995), que prevê a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher. A todos os que são pessimistas em relação à eficácia desse tipo de medida, vale lembrar que, em outras partes do planeta, a tendência de governos, partidos e instituições é diametralmente oposta. Há, portanto, algo a comemorar do Rio Grande à Patagônia neste 8 de março.
Olhar Global
Luiz Antônio Araujo: "Algo a comemorar"
Luiz Antônio Araujo
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