Pode parecer fantástica a possibilidade de Osama bin Laden ter mantido, na clandestinidade, um diário tão minucioso a ponto de detalhar valores pagos em forma de propina a burocratas de médio escalão do Paquistão. A história, porém, está cheia de episódios ainda mais incríveis. No Brasil, depois do golpe militar de 1964, o homem mais procurado pelas forças de segurança, primeiro na lista de cassados pelo Ato Institucional nº I, chamava-se Luiz Carlos Prestes. Tinha 66 anos (12 a mais do que Bin Laden no momento em que foi executado). Num dos esconderijos que ocupara no Rio, a polícia política encontrou 19 cadernetas com registros detalhados da vida interna do Partido Comunista Brasileiro. Os documentos serviram para indiciar 74 pessoas, a maioria militantes comunistas, por subversão.
Foi fácil comprovar a autenticidade das cadernetas de Prestes. Seu proprietário havia sido aluno de escola militar, chefe rebelde exilado, prisioneiro político e senador constituinte. Amostras de sua caligrafia precisa de colegial eram abundantes nos arquivos dos órgãos de informação. Com Bin Laden, é diferente. Documentos comprovadamente autógrafos do líder da Al-Qaeda são raros - supõe-se que uma parte esteja em poder dos Estados Unidos. Por isso, antes que escritos atribuídos a Bin Laden sejam utilizados para estabelecer qualquer versão da história de seus últimos anos, é vital que o conteúdo do material apreendido seja tornado público. Afinal, o mentor do 11 de Setembro foi morto há 19 meses e, até agora, sabe-se muito pouco de fontes oficiais a respeito do que aconteceu.
Olhar Global
Luiz Antônio Araujo: "Anotações para a história"
Luiz Antônio Araujo
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