Bolonha, Itália - Quando Eugenio Brivio começou a treinar jogadores cegos de beisebol em 2002, ficou confuso ao tentar transmitir um princípio básico.
- A primeira regra que nos ensinam é manter o olho na bola - afirmou Brivio nos bastidores de um jogo realizado em um tórrido domingo no estádio Leoni, em Bolonha. - Dá para imaginar que aquilo foi um desafio para mim.
Pelo jeito, Brivio teve êxito. A liga de beisebol para cegos da Itália não é enorme, mas desde 2005, a equipe milanesa de Brivio - a Thunder's Five - ganhou todos os campeonatos que disputou, com a exceção de um, e está seguindo forte para as eliminatórias a serem realizadas ainda neste mês.
- Eles ficaram bons - afirmou Brivio.
O campeonato daqui é muito diferente das maiores ligas de beisebol. Apenas nove equipes de toda a Itália competem na liga. Enquanto, nos Estados Unidos, é costume convidar os vencedores da Série Mundial à Casa Branca para um encontro com o presidente, os campeões cegos da Itália se contentam com um troféu, uma insígnia para costurar nos uniformes e uma imensa satisfação pessoal.
Daniela Pierri, a capitã de uma equipe baseada em Ravenna, era corredora e perdeu a visão já adulta.
- A primeira vez que corri como cega foi algo maravilhoso - disse ela. - Experimentei um verdadeiro sentido de liberdade. Esse jogo foi concebido para que nos tornemos tão autônomos quanto possível.
As equipes são formadas por cinco jogadores cegos ou deficientes visuais com os olhos vendados, além de um jogador e um assistente de defesa que não são cegos. Esses dois membros que podem ver atuam como treinadores de base.
Há menos entradas em cada partida e não há arremessadores nem receptores. Em vez disso, um batedor lança e acerta a bola, uma bola de beisebol de tamanho normal, com cinco furos e dois sinos de trenó no interior. Os jardineiros percebem onde a bola aterrissa por meio do som (o que deve ocorrer dentro do diamante). Os jogadores que enxergam batem uma pá na outra na segunda e na terceira bases para produzir um ruído que orienta os corredores. A primeira base é um tapete que apita.
Os "home runs" acontecem quando a bola voa pelo menos 60 metros para além da última base. (Alguns rivais reclamam dizendo que o Thunder's Five é imbatível por causa da força da rebatida de Sarwar Ghulam, um ex-jogador de críquete que está perdendo a visão rapidamente e é conhecido com admiração como o "rei dos home runs".)
Stefano Malagutti, comissário da associação, parafraseou um pequeno trecho do filme "Sorte no Amor", de 1988, para enfatizar que os jogadores cegos continuam sendo jogadores. Eles "lançam a bola, pegam a bola e rebatem a bola", disse ele.
- Nós tentamos respeitar o sentido do esporte.
As adaptações do beisebol para os jogadores cegos foram sendo refinadas ao longo de duas décadas de experimentos liderados sobretudo por Alfredo Mel, um antigo campeão de beisebol italiano - como jogador e treinador - que morreu em 2010.
- Ele pensou em tudo - disse Alberto Vazante, presidente da associação italiana de beisebol para cegos, a AIBXC, e um dos fundadores da liga.
- O jogo foi inventado aqui. Temos os direitos autorais.
O jogo, como praticado aqui, tem pouco em comum com o seu cognato americano, o beisebol sonoro.
Os italianos têm tanto orgulhoso de seu jogo que podem parecer totalmente indiferentes em relação à versão americana.
- Isto é beisebol de verdade; o beisebol sonoro é apenas um passatempo - disse Vazante. Ele e outras autoridades do beisebol italiano têm há muito tempo tentado converter os americanos para o seu modelo, mas seus esforços, até o momento, não mostraram resultados. - Lá já existe um campeonato e eles temem que possamos perturbá-lo - disse ele, referindo-se à Associação Nacional de Beisebol Sonoro.
Ainda assim, jogadores cegos de Cuba, Hungria, França e Alemanha, onde uma equipe acaba de se formar, entraram em contato uns com os outros.
- Nosso beisebol é tão rico quanto o beisebol de verdade, explorando todos os aspectos psicológicos e técnicos do esporte - disse Giovanni Lo Monaco, que joga como jardineiro esquerdo do White Sox de Bolonha. - Nós jogamos para ganhar.
O beisebol fez uma primeira incursão tímida na Itália no final do século XIX, ganhando força quando fãs de beisebol italianos e treinadores norte-americanos - muitas vezes ex-militares - fizeram a bola girar após a Segunda Guerra Mundial. O primeiro campeonato foi realizado em 1948.
- O esporte se expandiu rapidamente depois da guerra e foi amplamente coberto pela imprensa - contou Roberto Bugane, historiador não-oficial do jogo local e criador do salão da fama e museu do beisebol italiano na Internet. Em um dos vídeos disponibilizados no site da associação italiana de beisebol, Gregory Peck - que em seguida ficaria na capital italiana para filmar "A Princesa e o Plebeu" - aparece lançando a primeira bola do primeiro jogo internacional da Itália, contra a Espanha, em 1952.
A popularidade do beisebol chegou ao auge aqui após a Copa do Mundo de Beisebol ser disputada na Itália em 1978. Atualmente, o número de pessoas envolvidas com a associação, chamada Federação Italiana de Beisebol e Softbol, que sanciona a liga dos jogadores cegos, é de cerca de 25 mil.
Hoje, os italianos torcem para Alessandro Liddi, de 23 anos, jardineiro central dos Seattle Mariners que é conhecido como Alex, o primeiro jogador nascido e criado na Itália a jogar nas grandes ligas.
Mas a crise econômica tem sido dolorosa.
- Sem patrocinadores, é difícil sobreviver - disse Bugane. - E o futebol fica com a maior parte dos investimentos.
Os problemas financeiros também assombram a liga para cegos, que sobrevive principalmente graças à generosidade de uma doadora anônima - uma fã de beisebol - que a cada ano doa "uma verba considerável" para que a liga continue a acontecer, contou Vazante. Os treinadores e jogadores são todos voluntários. Muitas das autoridades foram jogadores de beisebol da federação nos anos 1960 e 1970 - vários dos quais jogaram para a então renomada equipe de Bolonha Fortitudo-Montenegro. A liga possibilita que eles continuem em contato e prestem um serviço.
- Nós nos conhecemos há bastante tempo - disse Fabio Giurleo, ex-jogador que também treina crianças no Milan. - Nós somos amigos e respeitamos uns aos outros, mas no campo, competimos. E também somos rígidos com os jogadores - ninguém fica de corpo mole.
O desenvolvedor de softwares cego Matteo Briglia, fã alucinado de beisebol, correu pela primeira vez depois de começar a jogar pela equipe Lampi Milano há três anos. Ele está viajando pelos Estados Unidos, onde espera promover esse tipo de beisebol para cegos.
- Acho que as pessoas pensam que o beisebol para cegos é um esporte chato, com muitas hesitações - disse ele. Mas a versão italiana do jogo é "mais rápida e divertida, com mais corridas e jogadas", disse ele, prognosticando que mais pessoas serão atraídas pelo jogo.