Informações de Israel, de que terroristas orientados pelo Irã teriam como alvo representações diplomáticas em São Paulo, deixaram em alerta máximo os funcionários do país que mantém uma relação conflituosa com Teerã. Em entrevista a ZH, o cônsul Ilan Sztulman, com jurisdição para atuar na região sul do Brasil, diz estar com medo.
Zero Hora - Desde os ataques na Argentina (à embaixada de Israel em 1992 e à associação judaica em Buenos Aires, em 1994), há um cuidado constante. Há um alerta mais grave agora?
Cônsul Ilan Sztulman - Infelizmente os alertas da comunidade judaica são comuns, mas nos últimos 20 dias, recebemos dos setores de inteligência um alerta grave. O foco é sobre os diplomatas israelenses que reabriram o consulado em São Paulo há um ano e meio. Mas infelizmente, a experiência e a história provam que as tentativas do Irã de estender as ações terroristas deixam toda a comunidade exposta a esse tipo de terror. Os grupos terroristas têm uma abertura muito grande na América Latina. Há pontos onde eles podem entrar e agir de forma livre. Fomos avisados de que há uma decisão estratégica de fazer um atentado. Estamos muito preocupados por nós e pela comunidade brasileira em geral.
ZH - Quem faria o atentado?
Sztulman - O Irã fomenta atividades terroristas em todo o mundo e estabelece uma base de operações na América Latina. Um dos ápices foram os atentados na Argentina. Agora, sabemos que existe, pontualmente, uma intenção de atuar na América Latina. Estamos com medo porque eles já provaram em muitos países que são capazes de atuar e fazer ataques terroristas sem respeito às fronteiras soberanas de um país, como fizeram há pouco na Índia (em fevereiro, um carro-bomba feriu quatro funcionários da embaixada de Israel em Nova Déli). Estamos preocupados e tomamos medidas necessárias pelo menos para a segurança da nossa equipe diplomática. São medidas de cautela. Também avisamos as autoridades brasileiras. Vimos nos últimos dois ou três anos inúmeros exemplos de atividades que o Irã fez em todo o mundo e nós temos medo. Sabemos que estão olhando para cá e tentando achar uma possibilidade.
ZH - Que tipo de evidências os senhores têm da movimentação?
Sztulman - Não sou um membro da inteligência. Não pergunto por que me dizem que a minha vida está em perigo, mas sei que quando dizem isso, tenho de ter cuidado. Nesse caso, há algumas semanas que todos os diplomatas israelenses no Brasil estão muito preocupados.
ZH - Há alguma informação específica de ataque ao Brasil?
Sztulman - Sim. A abertura do consulado chamou a atenção do governo do Irã e desperta a vontade de fazer alguma coisa conosco.
ZH - A atuação internacional do Brasil pode influenciar?
Sztulman - O Brasil cada vez mais toma um papel de liderança na diplomacia internacional. Faz toda a lógica mandar uma mensagem de que esse tipo de atuação tem também um preço. Eu espero que sejam só ameaças, mas a história prova que, quando tem um alerta de alguma fonte de inteligência, precisamos tomar ele a sério e nos preparar. Mas não vamos ser intimidados.
ZH - Foram feitos alertas à comunidade judaica em geral?
Sztulman - Não que tenhamos dito para a comunidade judaica 'entrem em um bunker', mas fizemos pedidos para estarem mais atentos às ameaças reais. Esse pessoal não diferencia entre o que são cidadãos israelenses e cidadãos brasileiros de origem judaica. Assim, como eles miram a nós como diplomatas, podem miram as comunidades judaicas. Hoje, temos uma ameaça na representação diplomática, mas para essas pessoas que estão orientando terroristas, não há diferença. Para eles, é mais uma questão de religião do que de Estado. O nosso medo principal são as representações diplomáticas, mas também há risco para a comunidade judaica.
ZH - Que ação se espera do governo do Brasil?
Sztulman - O governo brasileiro já foi informado dessa ameaça e esperamos que se mova não como o governo argentino naquele tempo. Espero que o governo brasileiro acredite que essa ameaça é verdadeira e não deixe isso passar de uma forma mundana.