Quando você trabalha com hotelaria por muitos anos, colecionar moedores de pimenta se torna parte do serviço. Ao menos, é isso que Michael Hoffman afirma.
- Você provavelmente pega um moedor de pimenta de cada hotel onde já trabalhou - afirmou Hoffman, 53, que está há quase três décadas na área e é diretor do Boulders Resort e do Golden Door Spa, aqui na região.
Galeria de fotos: uma história de família com pimenta a gosto
Isso explica porque ele e sua mulher, Knoppy, já tinham cinco moedores ao todo quando foram morar juntos em 1985. Mas Knoppy admite que isso não explica porque, quase 27 anos depois, eles têm mais de 600.
- A coisa saiu do nosso controle - afirmou Knoppy Hoffman, 50.
O que houve para que eles perdessem o controle é uma história que faz parte do folclore da família Hoffman, contada a todos que visitam sua casa.
Aconteceu no fim dos anos 1980 e os Hoffman, que são suíços e se conheceram quando estudavam na Escola de Hotelaria de Lausanne, estavam morando e trabalhando em Boston. (Ele era diretor assistente de alimentos e bebidas no Ritz-Carlton; ela era gerente de crédito.) Uma fatídica noite, eles decidiram que, ao invés de flores, iriam usar moedores de pimenta como decoração de mesa.
- Todo mundo estranhou - se lembra Knoppy Hoffman. Então, um dos convidados, colega de Michael Hoffman, pronunciou as palavras "Aposto que vocês não têm..." e descreveu um modelo de moedor de pimenta da Metrokane do qual ele gostava.
Eles não tinham e o amigo deu um de presente. "Aposto que vocês não têm" passou a ser o grito de guerra de uma legião de incentivadores, amigos e familiares que encorajavam os Hoffman.
Knoppy Hoffman diz que não acredita que a família tenha começado a procurar conscientemente pelos moedores.
- Eu não sei bem como passamos de seis para 600 - comentou. - Mas me lembro de quando chegamos a 300 e pensamos que aquilo era loucura.
O mais maluco é que Michael Hoffman é o único membro da família que realmente gosta de pimenta.
- O resto de nós não herdou esse gene - afirmou sua filha Zoe.
Para que um moedor faça parte da coleção dos Hoffman, ele deve obedecer a diversos critérios: precisa ser um que eles ainda não tenham, que possua um mecanismo para moer e que seja bonito, afirmou Knoppy Hoffman.
- Nosso objetivo nunca foi de ter o maior número de moedores de pimenta - afirmou. - Tem mais a ver com comprar uma obra de arte do que um utensílio.
E segundo Michael Hoffman, quando um modelo é fabricado em diferentes cores e tamanhos, o casal se obriga a escolher apenas um.
- Onde iríamos parar com esses modelos de acrílico? Você encontra este moedor em 145 formatos, tamanhos, cores e estilos - comentou, segurando um modelo básico de acrílico.
Observando atentamente a coleção, que fica exposta em prateleiras de vidro em uma das paredes da cozinha do casal e em uma estante de vidro na sala de jantar, nota-se claramente que os moedores fazem parte da história da família. Pelos cálculos de Knoppy Hoffman, ela e o marido se mudaram 21 vezes, desde que estão juntos, para lugares tão variados quanto Hong Kong, Bahamas e Las Colinas, no Texas. Eles vivem aqui com seus dois filhos - Zoe, de 18 anos, e Zack, de 20 -há cerca de seis anos.
- Isso é algo que certamente nos define - disse Zoe, que é caloura na Universidade Hofstra. - Eu não sei se viajamos simplesmente por viajar, ou se saímos de férias com a família para encontrar moedores de pimenta.
- É uma ótima maneira de se lembrar de um lugar - acrescentou. - Uma imagem só dura algum tempo, mas um moedor de pimenta conta uma história. E todos eles têm histórias.
Seu pai pegou um modelo prateado.
- Este é de quando abrimos a sala de espera do heliporto no telhado do Hotel Peninsula em Hong Kong - comentou. - Tudo precisava ter um formato aerodinâmico.
Passando para outro, ele comentou:
- Nós compramos este aqui nas Bahamas, porque ele tem um vidro azul com a mesma cor do mar. Nós pensamos que era uma boa forma de representar o tempo que passamos lá.
Ele apontou para peças do Chipre, da Suíça e do Vale do Napa e modelos da Alessi, da Joseph Joseph, da Bodum, da Dansk e da Peugeot. O menor, segundo ele, é um moedor de ébano com 4,4 centímetros, feito pela Asprey; o maior é um moedor suíço de 1,20 m de altura, feito de pinho.
- Durante boa parte da minha vida, tudo o que eu queria era ser mais alta do que aquele moedor - contou Zoe.
Ninguém na família se lembra de qual foi o mais barato, mas o mais caro é feito de chifre de alce com detalhes em estanho e custou cerca de 550 dólares. O mais antigo é de 1876. Há um que parece uma nave espacial, um que é um hambúrguer feito de vários tipos de madeira. Há um batom, um frasco à la Chanel, um pino de boliche, um cubo mágico, um vaso de plantas. Escolha o tema e encontrará um moedor que combine.
Mas, como nas histórias de pescador, a história dessa coleção também tem aquele "peixão que escapou", comentou Michael Hoffman. Ou melhor, 79 peixões.
- Havia uma coleção completa de originais da Dansk à venda no 1stdibs - contou. - Era um quadro de 6 metros de altura, com pinos que prendiam todos os moedores, e ele custava 29 mil dólares.
- Mas onde nós iríamos colocá-lo? - perguntou Knoppy Hoffman.
- Teríamos que nos mudar - ele respondeu.