
Semanas depois de o Partido Comunista ter dado lustro oficial a reformas que o governo vinha anunciando em discursos esparsos, os cubanos estão entre lustrar a lataria dos carros das décadas de 1940 e 1950, que se tornaram uma espécie de cartão postal móvel do país, ou comprar modelos novos - sem precisar dar-lhes lustro, mas perdendo muito do charme único que eles conferem às ruas da ilha socialista dos irmãos Castro.
Enfim, um dilema ambulante, que atinge 160 km/h, tem sofisticado estofamento de pele, resistente lataria por vezes pintada em duas cores e um confortável espaço para seis pessoas. São os 60 mil Buick, Cadillac "rabo-de-peixe", Dodge, Ford, Oldsmobile e Pontiac que, soltando espessa fumaça negra e engolindo gasolina como água no verão caribenho, dividem as vias públicas cubanas com alguns poucos e sem graça ônibus chineses ou quadrados Lada russos.
Em Cuba, cada motorista é um mecânico improvisado. Introduzem remendos de peças nos carros, para turbiná-los. E muitos nem cogitam trocar suas joias automotivas avaliadas em um valor médio de US$ 4 mil por modelos novos. Se fosse assim, quando, nos anos 1980, o governo cubano incentivou a compra dos Lada, teria ocorrido uma enxurrada de permutas. Mas aí terminou a União Soviética - e o plano.
- Esses carros são uma relíquia nossa. Muitos acham que nunca deixarão de ser um símbolo cubano. Turistas vêm aqui tirar fotografias ao lado deles. Mesmo assim, quando eu tiver a oportunidade, vou comprar um menor, mais moderno e menos poluente. Economizei pensando nisso - diz Manuel González, taxista em Havana.
González, porém, parece ser minoria. A maior parte dos cubanos guarda uma relação de carinho com seus carrões e deles não quer se desfazer - até museu existe para tais relíquias, um em Havana e outro em Santiago de Cuba.