Pelo menos duas mulheres que relatam ter sofrido abusos de um homem que se apresentava como médium, em Porto Alegre, devem ser chamadas para testemunhar no processo a que ele responde na Justiça. As informações são do g1 RS.
Uma delas é sobrinha de Alberto Deluchi e tinha 9 anos quando afirma ter sido alvo do abuso. O caso teria acontecido na década de 1990, em uma casa de veraneio, em Cidreira, litoral norte do RS. Ela dormia no quarto com os primos.
— Ele dizia que ia colocar a gente pra dormir e como eu dormia no beliche embaixo, ele vinha e deitava na cama comigo. E tentava colocar as mãos em mim, colocou as mãos em mim, nos meus peitos, atrás também — conta.
Alberto Deluchi, 70 anos, é réu por casos envolvendo outras duas mulheres, que registraram ocorrência, concluída com a responsabilização do homem.
O caso da sobrinha de Alberto e o de outra mulher, que afirma ter feito uma corrida por transporte de aplicativo com ele, não integram o processo. No primeiro caso, o suposto crime prescreveu. E o relato da passageira não foi registrado na Polícia Civil.
Leia mais detalhes sobre os casos abaixo.
Alberto foi investigado por estupro, violação sexual mediante fraude e assédio sexual contra duas mulheres. Uma delas buscou ajuda espiritual enquanto tratava um câncer. Ele chegou a cometer os abusos em um hospital, durante internação.
A mulher dele, Arlete Deluchi, também é ré por testemunhar e permitir os atos. Segundo a Polícia Civil, ela pediria que as pessoas que acompahavam as vítimas se retirassem da sala. Sozinho com as mulheres, ele cometeria os abusos. A defesa do casal afirma que não se manifestará, em razão de sigilo decretado ao processo.
Ambos foram denunciados, com o acréscimo de mais um relato de abuso, que teria ocorrido em uma casa espírita.
Abuso na infância
A sobrinha de Deluchi conta ainda que lembra de detalhes do que diz ter acontecido.
— Eu consigo lembrar perfeitamente tudo que aconteceu. Durante muitos anos, eu procurei não pensar e esquecer, mas é impossível, eu lembro de cada detalhe — diz.
— Eu ficava numa posição fetal, eu lembro de ficar numa posição fetal pra que aquilo não acontecesse. Eu entendia que aquilo era errado. Ele pegava a minha mão também quando tava em pé e tentava colocar no membro dele. Eu nem tinha percepção do que era membro masculino mas eu vi ele puxando a minha mão — relata.
Outra mulher afirma ter sofrido abusos de Alberto quando ele trabalhava como motorista de transporte por aplicativo. Ao entrar no carro, a mulher diz que ouviu do homem um pedido para sentar-se no banco da frente.
Segundo ela, enquanto conversava, o homem encostava na perna dela.
— Botava na minha coxa, eu tirava a mão na coxa, me senti muito incomodada, me senti muito invadida, achei assim, foi um desrespeito total, porque eu confiei no motorista, né? Foi muito horrível, foi uma situação se muito horrível, a gente se sente, então sabe o que vai fazer, sabe? — relembra.
Fernanda Campos Hablich, delegada que investigou as denúncias aponta que possíveis vítimas devem procurar a polícia.
— Eu posso dizer que as mulheres que sofreram esse tipo de abuso, que não sintam vergonha e muito menos se sintam culpadas. A roupa que tu usas, o modo como tu ages, o atendimento que tu buscas não é causa, são atos criminosos que vêm única e exclusivamente da mente pervertida do sujeito — afirma.
— As mulheres, principalmente crianças indefesas inocentes, não têm culpa dos abusos. Foi uma parte que me tocou bastante essa questão de uma das vítimas ter concluído e me dito, aos prantos: "Achei que fosse por causa do meu pijama que era cavado" — conclui a delegada.