A educação ambiental é uma assunto cada vez mais urgente frente aos desafios contemporâneos vinculados ao clima. Buscando preparar as gerações para lidar com essa nova realidade e encontrar soluções, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fornece auxílio e materiais para fortalecer esses ensinamentos nas escolas brasileiras.
Nesta entrevista a Zero Hora, Danilo Moura, oficial de Clima, Meio Ambiente e Redução de Riscos de Desastres no Unicef, reflete sobre os impactos da conscientização ambiental e os reflexos no mundo do trabalho.
Quais impactos já podem ser observados a partir de projetos de educação ambiental?
Você tem de construir uma atitude diferente nas crianças em relação ao meio ambiente. A educação ambiental, quando bem-feita, produz crianças e adolescentes que têm uma relação mais natural e integrada com a natureza. E isso se traduz de forma imediata não só em crianças e adolescentes que têm um conhecimento melhor sobre questões ambientais e climáticas, que são tão importantes, ainda mais no momento que vivemos, mas que estão engajados com esses temas. Que estão interessados em saber como é feito para garantir a reciclagem do lixo da escola. Que se mobilizam para plantar árvores, cuidar dos jardins, limpar áreas em torno de nascentes onde moram. Que são melhores cidadãos ambientais, que têm um entendimento do ecossistema em que vivem não como uma coisa externa, mas de que elas fazem parte. E isso tem um impacto nas atitudes. Para além dos valores, tem uma questão bem prática também de estar criando uma geração mais preparada para enfrentar um mundo que ela vai ter de enfrentar.
De que maneira esses projetos já trazem e podem trazer contribuições às empresas?
Você precisa de gerações que tenham a capacidade de pensar estrategicamente a relação com o meio ambiente. Um fato inescapável das próximas décadas é que vamos ter de lidar com um mundo que está mudando, impactado pela crise climática, de biodiversidade e de poluição. As empresas também vão ter de lidar com as mesmas consequências. Se elas tiverem pessoas que tenham as competências e os conhecimentos necessários para integrar isso no trabalho, na vida, na forma como pensa, produz, opera no mundo, isso vai ser muito rico. O setor privado vai precisar se adaptar a esse novo mundo. E, para isso, você precisa de novas gerações que entendam ele. É um pouco como literacia digital. Na verdade, a gente devia ter feito isso também há 30, 50 anos. Talvez não estivéssemos com problemas tão grandes. Mas o fato é que, de agora para frente, também precisamos desenvolver uma literacia ambiental. É preciso desenvolver uma geração que saiba como viver, produzir e consumir de uma forma mais sustentável, porque não vamos ter muita alternativa, na verdade.
Tem muitos setores produtivos que são beneficiados por você ter gerações que conhecem melhor esses temas.
Por exemplo, agrônomos, engenheiros e gente que trabalha para o setor produtivo da agropecuária que está mais integrada com o mundo moderno e com métodos sustentáveis de produção. Estão preocupados, pensando como diminuir o impacto ambiental da produção. Tem uma ação dos profissionais jovens que estão operando nesse nível de trazer novas soluções, pensar novas formas de fazer velhas coisas que, de alguma forma, protegem mais o meio ambiente, diminuem emissões, produção de lixo.
Porém, isso ainda precisa aumentar, correto?
Com certeza. Um dos desafios é justamente que a educação socioambiental no campo das crianças e adolescentes ainda é baixa, ruim. Precisa melhorar muito. E, obviamente, muito rápido. Todos os aspectos da nossa vida vão ser impactados pelas crises ambientais e você precisa formar as gerações, as atuais e as próximas, para que consigam, de fato, operar nesse mundo, saibam o que está acontecendo, como responder e ser produtivas nesse contexto. Inclusive para a própria capacidade de desenvolvimento do país.