Produzir o que se consome norteado pelas melhores práticas é um processo que começa muito antes dos produtos ou alimentos em si. Na agricultura, a educação ambiental está entre as tarefas que mais ganha importância nos últimos anos. Passa pela conscientização dos agricultores sobre a forma de cultivar e pelo entendimento da atividade como protagonista na mitigação das mudanças climáticas.
Pilar fundamental na assistência aos produtores, a extensão rural atua como ponte para levar pesquisa ao campo. No Rio Grande do Sul, o trabalho desenvolvido por instituições como a Emater foca não só em apresentar novas técnicas, mas em mostrar o benefício daquela ação, sobretudo as ligadas à agroecologia.
Um dos projetos trata da recuperação de matas ciliares, como parte do Programa Estadual de Revitalização de Bacias Hidrográficas no Estado. A manutenção da vegetação que margeia os rios revelou ainda mais importância depois das inundações de 2023 e 2024. Como cílios que protegem os olhos, as matas ciliares protegem os terrenos como uma contenção para que o rio não saia do seu curso. A ausência de árvores em muitas das áreas alagadas ampliou o impacto das cheias.
Extensionista da Emater e coordenadora do projeto, Thais Michel diz que a sua implementação é um processo delicado, mas que ganhou outra dimensão depois da enchente. Os produtores que já recebem assistência rural são visitados por técnicos da Emater e a instrução se dá pela conversa. Cerca de 150 pequenas propriedades localizadas nas bacias dos rios dos Sinos e Gravataí participam do programa.
— É um projeto difícil de ser executado porque lida com uma área que normalmente os agricultores usariam em benefício da propriedade. Mesmo sendo legalmente protegida, é preciso fazer o agricultor entender a importância daquela vegetação para a produção. Mas com tudo o que aconteceu em 2024 estamos conseguindo mostrar melhor. Não estamos indo para fiscalizar se está certou ou errado. Estamos indo pelo viés educativo — comenta Thais.
Outras atividades com foco ambiental capacitam os produtores no Estado. As agendas incluem conservação de campo nativo e projetos voltados à agroecologia e à produção de baixo impacto. Na Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), o programa Recuperação de Biomas, criado em 2018, abrange mais de mil famílias e 5 mil hectares no RS. São fatias de terras destinadas à preservação que permitem ao agricultor visualizar os resultados naquela área.
Guilherme Velten Junior, consultor de meio ambiente e pecuária familiar da Fetag-RS, diz que a prática tem mudado “drasticamente” a percepção dos agricultores sobre a importância de preservar. As terras com manejo conservacionista apresentam melhora com a redução de cabeças de gado por metro quadrado. Isso aumenta o peso dos animais que permanecem na área, já que se alimentam com melhor qualidade.
— Todos que entram no projeto o veem como forma de mudança. Eles têm o entendimento de que a gente não faz de forma obrigatória. Eles têm de cumprir, sim, os ritos do projeto dentro do período de 30 meses, mas é muito mais no diálogo e mostrando ao produtor que ele vai ter muito mais ganho de resultado, que é uma coisa que, às vezes, ele só não tem ainda essa visão — diz o consultor.
Agricultura até na moda
Promover a educação ambiental por meio do consumo é uma alternativa cada vez mais presente no varejo e fundamental pelo número de pessoas que consegue alcançar. Faz com que o assunto esteja presente no dia a dia das pessoas.
O processo começa antes do produto em si, na lavoura. Na Renner, os tecidos ganharam outra conotação com a utilização de algodão sustentável para a fabricação das peças. A matéria-prima é produzida sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos por mais de 350 famílias lideradas por mulheres no Ceará, Paraíba e Minas Gerais que são apoiadas pelo Instituto Lojas Renner, o pilar de ação social da companhia.
Desde 2020, quatro coleções já foram lançadas nesta linha.
— Fazer moda responsável exige atitudes inovadoras desde o design até a produção e o destino das roupas no pós-consumo. Este comprometimento une colaboradores, fornecedores e parceiros — diz Eduardo Ferlauto, gerente-geral de Sustentabilidade da Lojas Renner.
A partir de uma parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), por meio do programa SouABR (Sou de Algodão Brasileiro Responsável), a gigante da moda também monitora a origem dos produtos de ponta a ponta. A tecnologia de rastreabilidade digital permite aos consumidores acompanharem todo o ciclo de produção das peças, da fazenda que cultiva o algodão certificado até a fiação, a tecelagem ou malharia, à confecção e o varejo.
Até 2030, a companhia tem como meta alcançar 100% de rastreabilidade dos produtos de algodão, além de avançar a tecnologia para as demais matérias-primas têxteis. Mais de 20% dos fornecedores nacionais de vestuário estão conectados à plataforma, o representa 26,9 milhões de peças rastreadas.
— Empregar este processo em nossas roupas mostra que é possível conciliar moda, inovação e sustentabilidade para dar maior transparência ao processo produtivo de ponta a ponta — completa Ferlauto.