Era próximo de 16h de terça-feira (30) quando a família de Valquíria dos Santos, moradora da localidade de Rebentona, em Candelária, percebeu que era o momento de pedir ajuda. Sair de uma casa em que estava quatro pessoas, por conta, tornou-se impossível em razão do rápido avanço das águas do Rio Pardo.
— Deu tempo de pegar umas roupas e colocar a minha mãe num reboque. Ficamos lá esperando, foi horrível — relata, emocionada, a moradora.
Ao lado do marido, da mãe e da sogra, de 93 anos, Valquíria aguardou até por volta de 17h desta quarta-feira (1°) pelo resgate. Uma operação que incluiu um barco, um trator, um reboque e um caminhão.
A reportagem de GZH teve a oportunidade de acompanhar boa parte do socorro. Ainda sem poder contar com helicópteros da FAB, em razão do mau tempo, bombeiros voluntários de Candelária decidiram arriscar. Contaram com um momento de chuva fraca e trégua no avanço das águas para tentar tirar mais algumas pessoas de casas no bairro mais afetado pela enchente.
Parte dos moradores ilhados estavam a até 10 quilômetros de distância do ponto mais seguro para se chegar de caminhão, segundo alguns relatos, dado que traduz a dimensão do avanço do Rio Pardo além do seu leito normal.
Deste ponto em diante, apenas barcos seriam possíveis de operar, numa ação carregada de riscos em meio à força do rio, de galhos e árvores em movimentação e de arames farpados delimitando terrenos que poderiam estar submersos. A hélice de um motor presa a uma dessas cercas seria o fim da missão.
Uma vez resgatados, Valquíria, a família e alguns vizinhos foram levados até um reboque puxado por um trator, que os puxou até o caminhão, onde a reportagem aguardava a sua chegada.
— Não tínhamos luz, a bateria do celular estava acabando. Até a pilha do rádio terminou. Não sabíamos o que fazer — narrou a moradora.
A imagem do grupo de 12 pessoas resgatadas era o retrato do drama vivido em mais de 24 horas. Para amenizar o frio, pessoas improvisaram sacos de grãos como blusões. Dois trabalhadores rurais, exauridos, narraram ter ficado quatro horas agarrados a um poste. Estavam na iminência de desistir em razão da hipotermia quando o barco chegou.
O grupo foi encaminhado para o ginásio do colégio Medianeira, onde voluntários realizaram uma triagem médica e ofereceram roupas e comida. Dali, alguns partiram para a casa de amigos ou parentes. No local, mais de cem pessoas estavam abrigadas até o final desta tarde.
Helicópteros chegam a Candelária
Foram quase 24 horas de espera também pelo socorro aéreo. Às 18h45min, finalmente, o primeiro helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou em um campo de futebol da cidade, transportando as primeiras sete pessoas resgatadas. Em três horas, três operações de socorro foram cumpridas.