Ainda com quatro anos, Helena Rissi não entende a dimensão da enchente que destruiu e provocou mortes no Vale do Taquari na semana passada. A casa dela, onde a água nunca havia chegado perto, foi inundada. A família dela perdeu tudo.
— A Helena conseguiu ser acolhida em várias casas e está bem. Não tem a dimensão das dificuldades, mas na gente que é adulto dá um desespero. Ela fala que é uma casa nova e a gente diz “tu ganhou uma cama nova, um armário novo" — conta a mãe, a executiva Bernardete Rissi.
Na manhã desta quinta-feira (14), a menina voltou para a escola. Ela é aluna da Escola Municipal de Ensino Infantil Imigrante, uma das 18 escolas que retomaram às aulas no município. Só que dessa vez, a pequena mochila rosa vai mais vazia.
— Os brinquedos a gente conseguiu salvar e limpar, mas os livrinhos não. Esses ficaram encharcados. Mas precisamos ensinar o que é resiliência, que tem que lutar — completou a mãe.
Helena também não vai poder contar com a professora Marisa Gianesini, que só vai retornar ao trabalho à tarde, por também ter sido atingida pela enchente.
— Eu tinha materiais, produções e minha vida foi toda para o lixo. Hoje eu vou voltar a trabalhar de tarde e o que eu vou dizer aos meus alunos? Qual a cabeça eu tive e ainda eu ia pesquisar alguma coisa para hoje? Não sei o que vai ser, se vou ter emocional de entrar numa sala de aula — desabafou a professora.
Justamente esse recomeço foi alvo de debate na comunidade escolar ao longo desta semana. Como levar o assunto para a sala de aula e como discutir com os alunos. Principalmente os atingidos. Conforme a diretora da EMEI Imigrante, antes de tudo foi preciso desabafar. E isso aconteceu em uma reunião chamada de “círculo de paz”.
— Todo mundo está desestruturado. Mesmo se tua casa não foi atingida, é impossível não ver a dor do outro. Foi um momento em que todo mundo precisava chorar um pouco, colocar pra fora. Foi muito bom — contou Ana Paula Montagna.
Na escola, que atende desde bebês até crianças de quatro anos, a decisão foi por abordar o assunto de forma sutil e deixar que os alunos expressassem suas reações, conforme o que vivenciaram e souberam dentro de casa.
— Talvez hoje elas não sintam tanto. Vão sentir mais à frente. A fala de uma foi muito linda “a tia Neide disse, estamos vivos e isso é a maior graça” — relembrou Ana Paula sobre a reação de uma aluna.
Outra medida adotada na escola foi promover uma campanha de doação de brinquedos aos mais atingidos. Uma forma de integrar as crianças nesse processo de reconstrução e retomada das rotinas.