Diferentemente dos dias anteriores, o balanço sobre o serviço de busca e resgate de vítimas das enchentes, normalmente apresentado pela Defesa Civil, ocorreu em coletiva de imprensa, no Palácio Piratini. O número de mortes se manteve em 41, e o governador Eduardo Leite, utilizou o ato para anunciar liberação de recursos para a reconstrução das cidades atingidas.
Serão três frentes principais de aporte financeiro aos flagelados. A mais robusta provém de linhas de financiamento criadas pelo Banrisul e soma R$ 1 bilhão. O recurso será disponibilizado em linhas de crédito com taxas e prazos diferenciadas, protegidas por carência para o início dos pagamentos.
Estão previstos R$ 300 milhões para apoio ao setor primário, com prazos de até 10 anos e carência de 3 anos; R$ 100 milhões para MEI (micro empreendedor individual), micro, pequenas e médias empresas, com prazos de até 48 meses e carência de um ano; R$ 500 milhões para os municípios na forma de compra de créditos a receber como compensação pela perda do ICMS dos combustíveis; e outros R$ 100 milhões em recursos a serem aplicados para construção e reforma, estes ainda sem especificações divulgadas.
Além desta ação, o Estado irá liberar recursos da Saúde para os municípios, cujo montante corresponde a R$ 20 milhões para despesas emergenciais. Há previsão de valores para reconstrução e reestruturação de equipamentos em Unidades Básicas de Saúde e aporte para custeio aos sete hospitais atingidos: São José, de Arroio do Meio (R$ 100 mil); Caridade São Roque, de Dois Lajeados (R$ 100 mil); Beneficência Carmiliana do Sul, de Encantado (R$ 300 mil); Associação Franciscana, de Estrela (R$ 300 mil); Bruno Born, de Lajeado (R$ 300 mil); Nossa Senhora Aparecida, de Muçum (R$ 150 mil); e Roque Gonzales, de Roca Sales (R$ 150 mil).
Por fim, o governo promete creditar R$ 2,5 mil no cartão Devolve ICMS aos beneficiários cadastrados, na mesma forma de operação do programa que complementa a renda regularmente a integrantes do cadastro único da assistência social no Estado.
O governador também afirmou que espera manter uma linha de diálogo convergente com o governo federal sobre apoio da União aos flagelados. Leite se encontrará na manhã deste domingo (10) com o presidente da República em exercício Geraldo Alckmin, que estará no Rio Grande do Sul com comitiva de ministros. Os chefes de Executivo estadual e federal reúnem-se em Porto Alegre, dirigem-se à Base Aérea de Canoas, de onde partem para a região assolada.
— Vou falar com o vice-presidente Alckmin sobre a necessidade de ajuda para a recomposição da economia nas cidades atingidas, pois o Estado não terá condição de oferecer toda a ajuda necessária a toda a cadeia produtiva que foi colapsada junto com a estrutura administrativa e habitacional destes municípios — pontuou o governador.
Polêmicas: ausência de Lula, previsão e futuro das cidades
Provocado a responder sobre a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na atenção ao Rio Grande do Sul, Leite desviou-se da polêmica, sustentando que há contato próximo com o governo federal e que críticas políticas são menos importantes do que afastar burocracia, acessar recursos e acelerar a reconstrução das cidades.
— O momento é de união. Vou me abster de qualquer conflito político — resumiu.
Sobre a polêmica em torno da falta de observação de um alerta divulgado por um instituto de meteorologia, o governador também evitou fomentar controvérsia, restringindo-se a garantir que todas as previsões são consideradas relevantes e passam por análises da Defesa Civil.
Sobre a suspeita de uma interferência no resultado das cheias ocasionada por manejo em barragens, Leite assegurou que o governo estadual irá investigar e buscará compreender qual o tipo de impacto das operações para geração de energia hidrelétrica. Instado a posicionar-se sobre a fragilidade da gestão sobre a ocupação habitacional e econômica em ambientes reconhecidamente expostos aos efeitos da expansão das cheias, Eduardo Leite admitiu que será necessário constituir uma nova doutrina para usufruto destes espaços.
— Precisamos considerar a nova condição climática do planeta para uma gestão de ocupação com capacidade de previsão até mesmo de eventos excepcionais como o que estamos enfrentando. A própria reconstrução das cidades vai ter de prever isso, bem como a sociedade deverá adotar ações para enfrentar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas — sentenciou.
Leite prometeu disponibilizar estruturas técnicas do Estado para elaboração de projetos e auxílio para o planejamento urbanístico e recuperação das cidades.
Defesa Civil faz buscas a 46 desaparecidos
Durante a atualização sobre a tragédia provocada pelas enchentes, o governador Eduardo Leite informou que a Defesa Civil ampliou a lista de desaparecidos, passando a considerar 46 pessoas não localizadas, sendo 30 em Muçum, oito em Lajeado e oito em Arroio do Meio. Foram resgatadas 3.130 pessoas nos 87 municípios afetados. Há 3.193 desabrigados e 8.256 desalojados. O relato dá conta de outro efeito: 223 pessoas feridas, que precisaram de atenção em saúde.
Presente no ato, o chefe da Casa Militar e subchefe da Defesa Civil, coronel Luciano Boeira, informou que o Estado conseguiu, com apoio da sociedade civil, suprir de alimentos e vestuário, com possíveis excedentes, a demanda decorrente da crise. A ajuda humanitária, segundo o coronel, pode concentrar-se em itens que estão faltando, como fraldas, roupa íntima infantil, feminina e masculina, além de cobertores, lençóis e travesseiros.
— Como efeito da grande mobilização e da solidariedade do povo gaúcho, temos dois ginásios lotados de mantimentos e de peças de vestuário — relatou.