Três problemas do município de Santiago, na região central do Estado, estão sendo combatidos com a criação de uma moeda municipal: o excesso de lixo enviado para o aterro sanitário de Santa Maria, o alto preço que os produtores pagavam por sementes e adubos, vindos da Região Metropolitana, e a baixa procura dos moradores pelos produtos oferecidos nas feiras da cidade. Hoje, o Pila Verde ajuda a solucionar as três questões.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
As notas têm a mesma validade do real, mas são usadas em ciclo. O morador vende para a prefeitura seu lixo orgânico — composto por cascas de frutas, legumes e ovos, borra de café e erva-mate — e recebe o pagamento em pila verde. Além de ajudar o meio ambiente com a separação correta dos resíduos, o morador recebe um valor pelo que, até então, era apenas lixo. A moradora Docelina Santos Martins vende seu lixo semanalmente e explica como funciona essa etapa:
— Eu tenho um baldinho de lixo na pia, onde coloco os resíduos. Depois coloco tudo em sacos maiores e nas quartas-feiras eu levo pra trocar, que é o dia do meu bairro. Mesmo morando sozinha, consigo recolher 25 quilos de lixo orgânico! Eu tenho juntado esse dinheiro, 5 pilas por semana, pra fazer a feira. Já comprei até banha, carne de porco e frango. Várias coisas — explica Docelina.
Com essa moeda municipal, o morador vai a qualquer feira da cidade e compra os produtos ali ofertados, como hortaliças, frutas, queijo colonial, salames, vinhos. Tudo que é vendido nas feiras pelos cerca de 40 produtores cadastrados pode ser comprado com o pila verde. Conforme o vice-presidente do Hortomercado, Mauro Batista Romil, os valores entre o pila e o real são os mesmos e os produtores estão cada vez mais participando do projeto.
— Facilitou nossa vida como feirante. A gente não precisa mais sair pra buscar adubos e sementes, só faz a encomenda e em 15 dias tudo é entregue (sementes e adubo). No início, poucos se cadastraram. Mas agora praticamente todos os produtores estão cadastrados — explica o vice-presidente do Hortomercado.
E então, as notas de pila verde chegam nas mãos dos produtores. Eles podem comprar, com essas cédulas, sementes a preço de custo direto da prefeitura. E também adubo, feito na Central de Triagem e Transbordo de Santiago (CTT), com o lixo comprado dos moradores. O adubo é vendido por R$ 30 a tonelada, um terço do cobrado fora da cidade, e é entregue diretamente nas propriedades rurais.
— A ideia é recolher o lixo oriundo da cozinha (cascas e restos, borra de café e erva-mate). Esse material vai para o pátio de compostagem, e depois misturado com os galhos das podas da cidade e usado um acelerador biológico. Cerca de 40 dias está pronto o adubo — explica o coordenador de resíduos de Santiago, Dan Martins.
O CTT recebe, diariamente, cerca de 30 toneladas de lixo da cidade, a um custo aproximado de R$ 450 por tonelada. Depois da separação do que vai para a reciclagem, o restante é levado para o aterro. A média é de que 1,5 tonelada de lixo orgânico de cozinha tenha deixado de ser destinado para o aterro, além dos restos de podas de galhos da cidade e cortes de grama.
Com todas as mudanças, o pila verde conseguiu reduzir a quantidade de lixo enviado de Santiago para Santa Maria, baratear os preços de sementes e adubos para produtores, e tornar mais atrativas as feiras da cidade para os moradores.
O pila verde completou dois anos. Atualmente, são recebidas cerca de 1,5 tonelada de lixo orgânico semanal nos pontos de coleta. Em abril deste ano, o projeto foi vencedor na categoria Inovação e Sustentabilidade do Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor.
Conforme a prefeitura, atualmente cerca de 3 mil pilas verdes estão em circulação na cidade. O cuidado é para que não haja uma deflação, ou seja, o produtor não acabe ficando com muitos pilas e poucos reais, para suas outras despesas.
Vale-Feira
O projeto deu tão certo, que a prefeitura decidiu criar mais um incentivo para a agricultura familiar da cidade. Agora, os servidores do Executivo podem, a um custo de R$ 10 mensais, adotar o app do Vale-Feira, onde recebem R$ 50 para fazerem compras dos produtos. Criado em maio deste ano, no primeiro mês de vale, mais de R$ 40 mil chegaram nos agricultores — esse valor, em real mesmo.