O indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados na Amazônia, conforme apuração da Polícia Federal (PF). Ao menos um dos dois suspeitos presos durante a investigação pelo desaparecimento da dupla confessou ter cometido os homicídios. A informação foi revelada às 20h40min desta quarta-feira (15) pela superintendência da PF no Amazonas.
O chefe da PF, Eduardo Fontes, disse que "há grandes chances" de que os restos mortais localizados no local indicado pelo suspeito sejam de Bruno e Dom, mas que tudo depende do resultado da perícia.
Pouco antes, o ministro da Justiça, Anderson Torres, havia se manifestado, em rede social, declarando que foi informado pela PF de que "remanescentes humanos foram encontrados no local onde estavam sendo feitas as escavações. Eles serão submetidos à perícia". Torres acrescentou que "os responsáveis pelas investigações" concederiam entrevista coletiva em Manaus, na sequência.
Aos jornalistas, o superintendente da PF no Amazonas detalhou a apuração:
— Ontem à noite (terça-feira), o primeiro preso, Amarildo (da Costa Oliveira, o Pelado, 41 anos), confessou a prática criminosa. Ele narrou com detalhes o crime e se comprometeu em apontar onde havia enterrado os corpos.
Após obter a informação, equipes da PF se deslocaram, na manhã desta quarta-feira, em direção ao local indicado por Amarildo. O suspeito foi levado junto e encaminhado da delegacia de Atalaia do Norte (AM) para o porto da cidade, principal acesso às terras indígenas do Vale do Javari. Uma vez lá, foi colocado em um carro da PF e embarcou usando boné, máscara de proteção facial e um casaco com capuz.
— Saímos logo cedo em direção ao local. Ele afundou a embarcação (em que Bruno e Phillips estavam), como as investigações mostravam. O local onde os corpos foram enterrados era de difícil acesso. Ficava 3,1 quilômetros mata a dentro. Demoramos a conseguir chegar ao local. Não há contato telefônico na área. Lá, foram encontrados remanescentes humanos e as escavações ainda estão sendo realizadas — acrescentou Fontes.
Segundo o superintendente, o objetivo, agora, é identificar as partes humanas coletadas.
— A nova etapa é a identificação. Esses remanescentes humanos serão encaminhados amanhã para perícia, em Brasília. A identificação será realizada de acordo com normas internacionais. Em sendo comprovado que são relacionados aos dois (Bruno e Phillips), vamos restituir o mais breve às famílias — explicou Fontes.
Novas prisões
Ainda segundo o policial federal, novas prisões devem ocorrer.
— Agora vamos descobrir as causas das mortes e dos crimes. Ainda estamos na parte investigativa e realizando diligências, e novas prisões devem ocorrer. Todas as forças de segurança estão unidas e trabalhando de forma ininterrupta. O objetivo é reunir todas as provas de forma segura — acrescentou o superintendente.
Bruno e Phillips desapareceram em 5 de junho na região do Vale do Javari, no Amazonas, perto das fronteiras com Peru e Colômbia. Além de Amarildo, que havia sido preso temporariamente ainda em 8 de junho, um de seus irmãos, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, foi detido durante as investigações, na terça-feira (14).
No domingo passado, a PF informou que havia encontrado um cartão de saúde, uma calça, um chinelo e um par de botas pertencentes ao indigenista em uma mochila encontrada durante a tarde. No local, também estavam um par de botas e uma mochila com roupas de Dom Phillips.
A dupla percorria a região do Vale do Javari. Pereira orientava moradores da região a denunciar irregularidades ambientais cometidas em reserva indígena e o jornalista estrangeiro, correspondente do jornal britânico The Guardian, acompanhava o trabalho para registrar a apuração em um livro que pretendia escrever. Há cerca de dois meses, Pereira havia recebido ameaças de morte.
Na manhã do dia 5, não muito longe de Atalaia do Norte, testemunhas disseram que viram Amarildo passar de lancha em alta velocidade na mesma direção que Phillips e Pereira, pouco antes do desaparecimento. Na coletiva desta quarta, as autoridades se solidarizaram com as famílias de Bruno e Phillips.