É pelo olhar que Bruno Sulzbach, 18 anos, faz contato com a mãe, com o pai e com a irmã. Vira o rosto, pisca e arranca sorrisos de esperança dos familiares.
— A gente tem muita fé, e certeza de que ele está nos acompanhando, que nos escuta. Bruno é um sonhador, e sabemos que ele terá sequelas, mas vai melhorar — complementa o pai, o representante comercial Cláudio Sulzbach, 51 anos.
Há nove meses, o jovem morador de Estrela, no Vale do Taquari, passa por fisioterapeutas, fonoaudiólogas e neurologistas que se esforçam para devolver parte dos seus movimentos.
O estudante teve traumatismo cranioencefálico após cair de um penhasco com altura superior a 15 metros, no interior do município. Retornava de um passeio, interrompido por um atoleiro no meio do caminho. Despencou pela ribanceira quando parte de uma ponte de madeira rompeu. Parou sobre a antiga via férrea da cidade.
— Naquele dia, ele não ia andar. Foi porque um amigo ficou empenhado. Mas parece que quando está destinado, é assim — lamenta o pai.
Imagens mostram o automóvel destruído, com as rodas para o alto. Foram 42 dias na UTI - dois meses de internação total.
Na hora do acidente, Bruno não estava na “gaiola”, como é conhecido o veículo de trilha com ferros no local do teto. Como haviam ficado presos a lama, os amigos chamaram ajuda de um tio. O irmão de seu pai levou um Fusca para o socorro, e na volta o jovem assumiu o comando do resgate.
O pai explica que os automóveis atuaram como um pêndulo: a gaiola estava desligada, e a direção hidráulica perdeu suas funções. Com o manejo rígido, seu irmão não venceu a curva de acesso à ponte. Apenas as rodas da frente entraram no trilho do pontilhão. A gaiola foi arrastada, até que algumas tábuas cederam. Ao descer de ré em direção ao desfiladeiro, despencou puxando o Fusca de Bruno consigo. O tio teve ferimentos, sem gravidade.
Amor pelos automóveis
Desde a infância, o jovem foi atraído por carros e a mecânica que coloca toda a engenharia em funcionamento. Da rotação dos motores, aprendeu detalhes em um curso profissionalizante, concluído aos 16 anos. Ao volante, com a maioridade recém-atingida, passou a se divertir com amigos nas trilhas da linha Costão, interior de Estrela, no Vale do Taquari — tudo isso, até o dia 29 de agosto de 2020.
Hoje, ele precisa ser virado de duas em duas horas na cama. Com um guincho, é levado para uma poltrona reclinável, onde permanece em posições reclinadas ou até sentadas. Ele tem 1m90cm e 80 quilos — devido ao tamanho, precisa de ao menos dois para ser movimentado.
Os cuidados diários são responsabilidade da mãe, Marciane Eidelwein Sulzbach, 48 anos. A professora da rede municipal lida com o filho das 7h às 22h.
— Acho que por instinto uma mãe nunca perde a esperança. Desde o dia do acidente sempre tive a certeza de que ele ira se recuperar. A fé move montanhas. Ele está nos ensinando a enxergar a vida com outros olhos. O tempo é o nosso maior desafio. A recuperação é no tempo dele — conta a mãe.
O pai assume a noite e a madrugada. A irmã, Maria Eduarda, 21 anos, também professora, divide os turnos com a escola.
— Cada dia que passa, mostra mais evolução. Ele está respondendo mais às fisioterapeutas. Mais flexível, mais maleável. Temos esperança — reitera o pai.
A casa passou por reformas para receber as adaptações necessárias a gravidade do caso.
Com consultas particulares e medicação, os custos se tornaram inviáveis. Uma enfermeira contratada chegou a ser dispensada. Da secretaria da saúde de Estrela, eles recebem fraldas, um turno de fisioterapia e a alimentação, através de uma sonda nasal.
Para manter o tratamento, os pais colocaram o veículo da família em uma rifa. A caminhonete Fiat Strada, ano 2008, teve todos os números vendidos em poucos dias. Uma campanha pela internet foi criada por um voluntário que soube da história por uma reportagem da Rádio Independente, de Lajeado. A campanha pode ser acessada através do link.
— A gente não esperava essa corrente do bem. Muita gente procurando e ajudando. E vamos usar tudo para o tratamento do Bruno — explica Cláudio.
Qualquer ajuda pode ser enviada no pix com a chave (51) 9 95744198 - o WhatsApp de contato com a família é pelo mesmo número.