Enquanto esperam pelo início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, prometida pelo ministro da Saúde Eduardo Pazuello para ocorrer ainda em janeiro, Estados e municípios correm contra o tempo para garantir que as campanhas de imunização comecem assim que for dado o aval para alguma das vacinas que aguardam liberação da Anvisa. Planos especiais preveem desde transformar escolas, igrejas ou quartéis em salas de vacinação a investir em sistema de drive-thru. Em alguns locais, a logística inclui até mesmo transportar doses de barco e armazená-las em frigoríficos de peixes.
Governos estaduais dizem que as seringas e agulhas em estoque já seriam suficientes para as primeiras fases de imunização. Ao menos 15 das 27 unidades federativas do país também fecharam contrato com farmacêuticas, assinaram memorando ou reservaram orçamento para compra direta de vacina. No RS, o Piratini deverá aguardar até o final de janeiro pela chegada das vacinas do governo federal ao Estado. Caso o prazo não seja cumprido, há possibilidade de compra da CoronaVac.
Um dos objetivos dAs negociações é, justamente, não depender exclusivamente das doses que devem ser distribuídas pelo Ministério da Saúde. Isso porque, apesar de o governo Jair Bolsonaro ter apresentado o Plano Nacional da Vacinação Contra a Covid-19 no dia 16 de dezembro e de o ministro Eduardo Pazuello ter prometido o início da vacinação para janeiro, ainda não há data oficial para o começo da campanha — projetada para ocorrer entre 20 de janeiro e 10 de fevereiro.
Professor de Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde da FGV, Walter Cintra analisa que o cenário destoa do histórico de campanhas anteriores.
— A grande diferença é a condução desastrosa do governo federal. Em vez de coordenar um programa integrado e dar credibilidade às vacinas, como sempre foi, ele fez o contrário — diz. — Isso forçou Estados a se mobilizar para garantir o mínimo.
Logísticas pelo país
Em São Paulo, o acordo com um laboratório chinês é para produzir a Coronavac, que aguarda autorização de uso emergencial da Anvisa. A gestão João Doria (PSDB) prevê começar a vacinar no dia 25, com meta de imunizar 9 milhões de pessoas até o fim de março. Para cumprir o cronograma, precisa tirar do papel uma operação de guerra. Só na proteção de estoques e escolta de veículos refrigerados, que levam vacinas aos municípios, foram empenhados 25 mil agentes de segurança pública — mais de 20% dos 113 mil homens e mulheres que compõem as tropas paulistas.
O governo estadual também se prepara para dobrar o número de salas de vacinação, passando das atuais 5,2 mil para até 10 mil. Entre as alternativas há farmácias, terminais de transportes públicos e quartéis da PM. Até clubes de futebol, como Corinthians e São Paulo, colocaram seus estádios à disposição.
No Rio de Janeiro, caso necessário, o plano prevê postos em escolas, instituições religiosas, associação de moradores, shoppings, aeroportos e unidades do Detran. Já Minas Gerais aposta em vacinação à noite e nos fins de semana. Ginásios e condomínios são outras alternativas citadas no país. Pelos programas, equipes de saúde devem ir, ainda, a pacientes acamados e centros de idosos.
Contra aglomerações, o mais comum é a vacinação por drive-thru: modalidade em que não é preciso sair do carro. Além de São Paulo, o sistema foi sugerido por Maranhão, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás. Neste último, o governo também diz que desenvolve aplicativo para agendamento por celular.
Em Rondônia e no Amazonas, algumas comunidades só podem ser acessadas por barco. Pela mesma razão, o Acre também vai precisar mobilizar aeronaves e embarcações para o transporte de doses. Para evitar que estraguem, o governo comprou novas câmaras frias e, como retaguarda, deve usar um frigorífico de peixes que estava fechado desde 2018.
— Sairemos de uma capacidade de armazenamento de doses de vacina de 600 mil para 1,6 milhão de doses — diz Renata Quiles, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) no Acre.
Imunizantes elaborados com o vírus atenuado, a exemplo da Coronavac e da vacina da AstraZeneca e Oxford, devem ficar conservados entre 2ºC e 8ºC. Por sua vez, a da Pfizer, feita com base em extração de RNA, precisa de temperaturas ainda mais baixas, caso o armazenamento dure mais de cinco dias. A infraestrutura necessária para conservação dos imunizantes fez o governo de Sergipe repensar as alternativas no mercado.
— Exceto a vacina da Pfizer, que exige armazenamento a - 70º, todas as demais vacinas atendem a nossa logística — disse o Executivo sergipano.
Já Ceará e Rio Grande do Sul negociam usar ultrafreezers de universidades.
— Se a vacina da covid chegar agora, podemos usar a rede da influenza (gripe), que já é boa — afirmou Cynthia Bastos, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul.
Para acelerar a logística, o governo estuda alugar mais caminhões refrigerados e incluir farmácias na rede de aplicação.
— Em 6 horas, conseguimos fazer o deslocamento pelo Estado inteiro. Podemos vacinar até com a Pfizer, sem estocar — afirma. — Se os municípios deixarem as pessoas organizadas, chegamos vacinando.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.