O olhar de admiração e de curiosidade que a pequena Caroline cultivou durante anos vendo o pai sair fardado para trabalhar inspirou uma homenagem na manhã desta sexta-feira (7), em São Gabriel, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul.
Chamado para comandar uma operação que teria participação de integrante de outra unidade, o 2º Sargento Clesio Onir Munhoz Jobim foi surpreendido com a apresentação da própria filha, a soldado Caroline Chagas Jobim, 26 anos, como sua parceira para o dia de trabalho.
– Eu sempre ficava olhando e imaginando como era aquele serviço. Há um mês, tive essa ideia, de acompanhá-lo em um dia de trabalho como homenagem pelo Dia dos Pais. Conversei com o comando e fui autorizada – conta a PM que desde o ingresso na corporação, em 2016, atua no 21º Batalhão de Polícia Militar, na zona sul de Porto Alegre.
O encontro ocorreu no pátio do 4º Esquadrão do 2º Regimento de Polícia Montada (2ºRPMon).
Os militares ficaram em forma, enquanto a soldado esperava escondida em uma sala. Quando foi chamada, uma circunstância decorrente da pandemia fez com que o pai não reconhecesse imediatamente a filha:
– Ele não me reconheceu com a máscara. Só quando leu meu nome. Eu já entrei chorando. Foi muito emocionante.
Ainda confuso, o sargento, 52 anos, logo embargou a voz:
– O major me chamou e ela entrou e não percebi quem era. Mas quando vi o nome a emoção tomou conta, nos abraçamos. A gente quer ver os filhos sempre junto da gente.
O sargento Onir, que está há 30 anos na corporação, trabalha na patrulha rural do 2º RPMon. A filha também começou a carreira na patrulha rural do 21º BPM. Nesta sexta-feira, os dois estão juntos atuando na zona rural de São Gabriel.
O militar lembrou das curiosidades da filha durante a infância.
– Ela perguntava sobre horários, sobre disciplina. Eu sempre tive preocupação com horário, gostava de chegar mais cedo para me preparar. Ela perguntava: "pai, por que tu vai tão cedo para o trabalho?". Eu gostava de chegar meia-hora antes e tentei passar isso para ela – diz Onir.
– Com certeza ele foi a minha inspiração para entrar na Brigada Militar, sempre foi um exemplo de ética, responsabilidade e honestidade – diz a soldado.
Jobim tentou o concurso em 2012, depois de terminar o ensino médio, mas não foi aprovada. Repetiu em 2014, sendo chamada em 2016, quando fez o curso de formação. Foi lotada em Porto Alegre, onde mora sozinha. A família queria tê-la por perto e se preocupa com o trabalho em uma cidade com índices de criminalidade mais altos.
– O pai sempre me fala sobre trabalhar aqui (em São Gabriel). Hoje (quinta-feira) quando cheguei em casa de folga, ele já foi dizendo que tinha ouvido falar sobre vagas na região. Eu até penso em volta para ficar perto deles – diz a soldado.
Durante a solenidade de homenagem, Jobim entregou ao pai mimos feitos em miniatura e um livro dos 180 anos da BM com dedicatória. Ele também recebeu uma medalha comemorativa da corporação.
– Foi uma forma de a BM homenagear todos os pais da corporação, foi uma iniciativa da soldado Jobim. Ela demonstrou todo orgulho que tem pelo exemplo do pai e também da BM – destacou o major Aníbal Menezes da Silveira, subcomandante do 2º RPMon, cuja sede fica em Santana do Livramento.
Faceiro em cumprir o resto do turno de trabalho ao lado da filha, o sargento não escondeu o maior desejo:
– Quem sabe ela ainda vem trabalhar aqui até eu me aposentar?
Cumprida a missão de sexta-feira pelas ruas de terra da zona rural, ficará faltando apenas o almoço do domingo, Dia dos Pais.