Ao lado de seus parceiros de vida e de labuta, os labradores Guapo, Bono, Logan e Barão embarcaram em um avião da Força Aérea Brasileira, em 1º de março deste ano, para a missão mais difícil de suas carreiras: ajudar nas buscas por vítimas da tragédia de Brumadinho (MG). Passados três meses, os cães, seus preceptores e o coordenador operacional do grupo no Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul serão condecorados pela Defesa Civil do Estado.
Nesta sexta-feira (7), às 14h, homens e animais receberão medalhas no Palácio Piratini pelos serviços prestados em Minas Gerais. Também será agraciada uma servidora do Instituto-Geral de Perícias. Todos, de alguma forma, contribuíram para amenizar a dor de famílias dizimadas pelo rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro. A catástrofe engoliu casas, estradas, lavouras, matas e cursos d'água. Tudo ficou coberto de lama.
Quando avistou o mar de rejeitos pela primeira vez, o responsável pela equipe, 1º tenente Ivan Flores da Rosa, 48 anos, compreendeu o tamanho do desafio pela frente.
— Foi muito impactante. Não tínhamos ideia de que a área afetada era tão grande —relembra o oficial, que sonha em criar um centro de treinamento de cães no Estado e transformar o Rio Grande do Sul em referência na área.
Treinados para identificar odor cadavérico (com certificação nacional), os cachorros tiveram de se adaptar ao terreno movediço e traiçoeiro, tanto quanto suas duplas – os sargentos Gerson Meireles dos Santos, 48, e Alex Sandro Teixeira Brum, 40, e os soldados Vagner Charão Lago, 37, e Juliano Soares Sodré, 30. Coube a Bono, um dos mais experientes da matilha, localizar o primeiro corpo (de mulher) sob da superfície.
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— Ele caminhou três ou quatro metros na lama e já começou a cavar e a latir — recorda o 3º sargento Meireles.
Os militares não sabem dizer quantos cadáveres e segmentos corporais encontraram. Sabem que "foram muitos". A ação deu tanto resultado que a estadia se estendeu além do previsto. Eles foram para ficar 10 dias e acabaram permanecendo 25.
— A gente já sabia que os gaúchos faziam um trabalho sério, por isso pedimos apoio. Eles foram excepcionais — ressalta o 1º tenente Lucas Silva Costa, comandante do Pelotão de Busca e Salvamento com Cães do Corpo de Bombeiros Militar de Minas.
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Ao longo da operação, que contou com cachorros de 11 Estados, estima-se que os animais tenham sido responsáveis por achar 80% das vítimas fatais do desastre. Até quarta-feira (5), havia 246 mortos e 24 desaparecidos.
— Os cães superaram todas as tecnologias empregadas em Brumadinho. Eles são o grande destaque. É isso que tem de aparecer para a sociedade — reforça o 2º sargento Brum.
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O amor pelos bichos é evidente a cada fala. Brincalhões e espertos, os labradores são como filhos para os socorristas e parecem encarar o ofício como brincadeira – imagens gravadas em Minas mostram o animais farejando e balançando o rabo. A qualquer sinal de cansaço, a função era paralisada.
— A gente cria um vínculo. Trabalhamos sempre com o mesmo cão, desde filhote, e sabemos até onde ele pode ir. Não ultrapassamos limites — explica o soldado Sodré.
Ao final de cada dia, todos passavam pela "zona de descontaminação", onde eram encharcados por lava-jatos. Os cães recebiam quatro tipos de xampus, eram examinados por veterinários e recebiam medicamentos. Até hoje, o acompanhamento prossegue, sem sinais de sequelas. Guapo, Bono, Logan e Barão estão, enfim, prontos para mais uma missão.
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