Enquanto crianças matriculadas em escolas em Caxias do Sul se preparam para o período de férias de inverno, muitos pequenos ainda aguardam a chance de ganhar uma vaga no Ensino Fundamental. Parece improvável, mas em pleno mês de julho 66 crianças esperam o chamado da Central de Vagas para começar a estudar. A maior brecha é no 1º ano, e a região Sul é que mais sofre com o problema.
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A situação é acompanhada de perto pelo Conselho Tutelar e Ministério Público, mas não há indicativo que aponte uma saída emergencial para a situação.
– O que nos deixa mais preocupados é que este é o início da vida escolar, e este aluno está fora. Minha equipe está se organizando para entrar com mais uma ação (para exigir que o município abra vaga para o aluno), que eu espero que seja a última do ano – afirma a titular da Promotoria Regional de Educação, Simone Martini.
O problema, no entanto, não está relacionado diretamente à falta de vagas no Ensino Fundamental ofertado pelo município, principalmente: estima-se que pelo menos mil vagas estejam sobrando em toda a cidade. O grande entrave é quanto ao zoneamento: os bairros Desvio Rizzo, Esplanada e Serrano, por exemplo, concentram mais da metade da demanda de toda cidade, déficit causado basicamente pelo crescimento populacional acelerado destas regiões. Em junho, quando a demanda alcançava 105 vagas, só estas três regiões demandavam 65 pedidos.
– A única solução que vemos é a construção de novas escolas nesta região – aponta a promotora Simone.
A secretária municipal de Educação, Marina Matiello, diz que o município está sobrecarregado e procura imóveis na região do Rizzo para suprir a demanda - uma possível parceria com um órgão privado estava em andamento, segundo a secretária. Ela diz que a ideia é também solicitar ao Estado que compartilhe mais vagas no Ensino Fundamental.
– Nós estamos construindo possibilidades e verificando quais imóveis da prefeitura que podemos utilizar. Há um prédio que era usado pela Guarda Municipal, por exemplo, que pode ser útil – afirma a secretária.
Parceira entre Estado e Município é opção
Uma parceria entre município e Estado que funciona desde 2015 tenta reduzir a fila de espera em um dos colégios com maior procura na cidade: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Nandi, no Desvio Rizzo. Em vez de terem aulas no prédio da instituição, oito turmas com 210 alunos do Professor Nandi são recebidos na Escola Estadual de Ensino Médio Professora Ivonne Triches dos Reis, que é vizinha ao colégio. À tarde, a instituição estadual costumava ficar fechada e, por isso, a 4ª Coordenadoria Estadual de Educação ofereceu o espaço à Secretaria Municipal de Educação.
– A única questão cedida pela CRE é o prédio. As merendeiras são do município, o lanche é nosso e a cozinha é separada. Tem funcionado bem esta parceria – garante a secretária municipal de Educação, Marina Matiello.
Lotação máxima nas escolas do Rizzo
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Leonor Rosa, no Desvio Rizzo, não tem condições de acomodar novos alunos. As salas de aula estão lotadas e as 542 vagas preenchidas.Ainda que as inscrições sejam feitas via Central de Matrículas, que organiza o cadastro único de ensino, mães desesperadas ainda comparecem à recepção do colégio implorando por uma vaga, revela a diretora Rosana Rizzon. São famílias que se mudaram para a região do Rizzo e não encontram disponibilidade de vagas no Ensino Fundamental na rede pública.
– A cada ano, a procura aumenta e a situação se agrava. A região cresceu muito, e estamos cercados por novos conjuntos habitacionais. O dano que o aluno enfrenta não frequentando as séries iniciais é grande, porque este é o bloco da alfabetização – detalha Rosana.
Uma das famílias que apela à direção com bastante frequência é a da desempregada Claudete da Silva Antunes. Mãe de duas crianças, ela conseguiu vaga somente para um dos dois filhos. O imprevisto começou quando ela se mudou do bairro São Victor Cohab para o Rizzo, em novembro do ano passado. Kauane, de 10 anos, conseguiu facilmente uma vaga no 5º ano do Leonor Rosa. Já o pequeno Alex Sandro, seis, está, desde novembro do ano passado, frequentando uma escola no antigo bairro. A logística funciona assim: de segunda a sexta, o menino mora na casa dos avós. Sábado e domingo, a mãe o busca para passar o fim de semana.
– É uma tristeza enorme porque ele se sente abandonado, que eu não quero mais ele. Todo domingo à noite ele sai chorando de casa. Como não tem como encaixá-lo na escola aqui do bairro, só nos resta esperar – lamenta.