O dia de sol entre nuvens ameniza a preocupação dos cerca de 250 moradores de São Jerônimo que tiveram de abandonar suas casas por causa da chuva que atingiu a região nos últimos dias. No entanto, a previsão da Defesa Civil é de que o nível do Rio Jacuí aumente nos próximos dias, com a descida da água de áreas mais altas.
Na manhã desta sexta-feira (2), o nível do rio era 6 metros acima do nível considerado ideal.
– Está subindo e vai subir mais. A cidade é mais baixa do que os locais vizinhos e acaba represando a água – teme a coordenadora da Defesa Civil na cidade, Lani Almeida.
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Duas mil pessoas foram afetadas na cidade. O município de pouco mais de 20 mil habitantes já não tem pessoas mantidas em abrigos. Os que estavam no Ginásio Municipal Plácido Cunda já arranjaram lugar na casa de amigos ou parentes. Diversas ruas dos bairros Cidade Baixa e Princesa Isabel estão alagadas. A água passa das calçadas e invade casas em algumas vias.
Dos 63 anos de vida, Maria Elizabete Santos passou mais de duas décadas na Vila Princesa Isabel. Todo ano ela precisa sair da casa, que fica às margens do Jacuí. Ela teve de sair por volta de 14h de quarta-feira (31) para buscar abrigo na filha, que fica em uma parte alta do bairro. As outras duas filhas menores foram juntas, para conseguir chegar até a escola.
– Minha casa está lá, dentro da água. Por enquanto eu estou aqui, só consegui salvar roupa de cama e colchão. O resto eu perdi – lamenta a aposentada.
Junto com ela, outras 15 pessoas dormem na casa da filha, entre amigos e familiares. A residência de madeira de três peças tinha sete colchões no chão e roupas pelo pátio – que as pessoas não estão conseguindo lavar, já que o abastecimento de água foi interrompido. Até um carro é usado como dormitório.
– Penso em voltar. Estou dando graças à Deus que a água está saindo e eu vou poder voltar – sorri Maria.
A situação é semelhante na Vila Beira-Rio. A soldadora Josiane dos Santos, 40 anos, não abandonou a casa onde mora. Nesta manhã, ela saiu determinada a conseguir ajuda com a prefeitura.
– O rio subiu de uma hora pra outra. Está bem complicado para nós. A parte de trás da vila está impossível se entrar. É muita água, mas quero salvar as coisas que tenho em casa.
Ela diz que perdeu muitos itens como cama, sofá e eletrodomésticos. Os dois filhos, de 17 anos e 15 anos, foram para a casa de uma familiar para não deixar a aula:
– É muito dolorido. Quando a gente compra, perde, tudo de novo. Todo inverno isso.
Prefeito diz que não há como segurar a natureza
O prefeito de São Jerônimo, Evandro Heberle, diz que não há investimento em infraestrutura que possa conter o avanço da natureza e a cheia do rio.
– A única coisa que podemos fazer é ter uma equipe boa para atender essas pessoas. A gente se mobiliza com voluntários, empresa, para dar resposta à comunidade. Mas é quase inviável alguma obra para conter – comenta.
A Defesa Civil do município pede doações de roupas de cama e alimentos não perecíveis. O local de doação fica em frente à prefeitura do município.
O abrigo da cidade segue aberto 24 horas por dia, caso alguém precise dormir, tomar banho ou lavar roupas.