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As mãos cheias de espinho, que precisam repousar na água quente misturada com cachaça e vinagre, todo final de dia, são as mostras do sacrifício daquelas que elegeram a pesca como profissão. Mulheres atuando na pesca são tão raras que basta perguntar a pescadores do Sul de Santa Catarina sobre quem elas são e onde vivem, que respondem prontamente. Pudera. Dos 80 barcos na praia da Pinheira, por exemplo, só três mulheres estão cadastradas. Engana-se quem supõe que elas são coadjuvantes na lida. Há pescadoras como Tereza Norma da Silveira Silva, 48 anos, que não vai para o mar porque enjoa, mas é responsável pelos peixes pescados, da chegada à venda, ou como Lucenir Marques Gonçalves, 56, que pesca para comer.
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– Comecei ajudando meu pai, mas aprendi mesmo com meu sogro. E criei meus filhos (dois rapazes, uma menina) graças à pesca – sentencia Tereza, natural da Guarda do Embaú, que acorda diariamente às 3h para trabalhar.
Fileteira reconhecida, além de preparar o peixe, ela o distribui. Por isso, tem carteira de pesca há 18 anos e a exibe com orgulho, porque precisou parar de estudar na 4ª série para ajudar em casa:
– Me sinto bem em meio à natureza.
Já Lucenir, conhecida em Ibiraquera como Cecê, não apenas limpa os peixes: elas mesma os pesca desde os 12 anos.
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Mãe de três filhos, de 26, 28 e 35 anos, diz ter criado os rebentos graças à pesca. Orgulha-se por tarrafear e remar e por ser lembrada em um meio masculino.
– Me chamam de Pereirão (em alusão ao personagem interpretado por Lilia Cabral na novela Fina Estampa), porque cuido de tudo sozinha. E para os que duvidam, sempre bato foto do que pesco e publico no Facebook – enfatiza Cecê.
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Ela costuma ir à Lagoa do Saco "quando dá vontade", sempre depois da meia-noite.
– Pescar é minha terapia, não tenho estresse, depressão, nada – completa.