Pouco antes das 15h de quarta-feira, no interior do Campus do Vale da UFRGS, ouviu-se um apito agudo seguido do grito de uma jovem:
– Invasão!
Um estudante, aparentemente contrário à ocupação e incomodado com a barreira montada pelos manifestantes em um corredor, havia empurrado uma cadeira e um tapume e se esgueirado para dentro de um dos blocos da universidade. Um grupo de ativistas seguiu atrás, mas não localizou o aluno que rompeu o bloqueio. Os apitos são utilizados por responsáveis pela segurança nos estabelecimentos ocupados, enquanto outros colegas se incumbem da alimentação ou são destacados para cuidar dos contatos com a imprensa – em uma divisão semelhante à utilizada pelos alunos secundaristas no começo do ano e resumida em um manual inspirado nas manifestações realizadas no Chile em 2006.
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Além do cuidado com a entrada e a saída de pessoas, a rotina nos locais de protesto inclui participações em assembleias, oficinas e aulas públicas, apresentações culturais e tarefas como alimentação e limpeza. Os participantes também registram e divulgam suas atividades via Facebook. Em regra, cada unidade tomada pelos alunos cria uma página própria.
– Fazemos essa divulgação porque não confiamos na cobertura da mídia – sustenta a aluna de Letras Fabiana Lontra.
As páginas também buscam angariar a simpatia da opinião pública – já que o método de reinvindicação é questionado por uma parcela do próprio corpo estudantil. Na UFRGS, pelo menos dois movimentos contrários aos bloqueios foram organizados: o Desocupa UFRGS e o Eu Digo Não à Invasão na UFRGS. Os porta-vozes afirmam não ter vinculações partidárias ou com a política estudantil e não discutem o mérito das reformas do governo. Estrategicamente, se concentram em liberar as áreas da universidade.
– A PEC 55 pode e deve ser discutida, mas não precisa parar a universidade, com custos imensos para os cofres públicos, para as pesquisas e a comunidade – afirma o aluno da Psicologia Júlio Pereira de Souza, 28 anos, do Desocupa UFRGS.
Laís Karsburg, 18 anos, aluna de Engenharia da Computação e membro do Eu Digo Não à Invasão, lamenta que atividades de extensão na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (Esefid) tenham sido interrompidas:
– São atendidas pessoas idosas, diabéticas ou com Alzheimer que não têm como pagar tratamentos.
Ocupante da Esefid e aluna de Dança, Manoela Bazacas, 29 anos, diz que o movimento vem oferecendo atividades, mas não especificou quais. Recomendou consultar a página da ocupação no Facebook – mas, até sexta-feira, ali não constava qualquer benefício voltado a idosos ou doentes. O movimento de desocupação recorreu ao Ministério Público Federal, à Advocacia-Geral da União e à Justiça Federal para tentar liberar as áreas bloqueadas.