Depois da chuvarada que destroçou casas na região de São Jose do Caí, em Nova Petrópolis, ao longo da segunda-feira, famílias abrigadas no Centro Evangélico ainda se recuperam do susto. Pudera: a chuva que iniciou por volta das 10h da segunda-feira encerrou com a remoção das famílias em botes, em uma operação articulada por 50 bombeiros voluntários que adentrou a madrugada de terça-feira.
– Eu nunca vi nada igual. Estava fazendo crochê quando comecei a ouvir um barulho e chamei o pessoal para sair de casa – lembra a aposentada Eva Trilha da Costa, 70 anos.
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Eva e outros familiares deixaram a região de barco e seguiram somente carregando a roupa do corpo até o salão onde dormirão pelo menos mais uma noite. São 21 pessoas que não sabem onde irão morar ou sequer o que vestir no dia seguinte. O Corpo de Bombeiros pede, por enquanto, que a comunidade doe água mineral, já que Nova Petrópolis ainda não tem o abastecimento regularizado. A previsão é que a oferta de água tratada seja regularizada somente na tarde de hoje. Próximo das 18h de ontem, 70% do serviço estava normalizado.
_ Nos disseram que moramos em uma área de risco, que só serve para criar animais. Ninguém nos disse que não poderíamos viver aqui quando compramos o terreno, que é escriturado_ reclama Maria de Oliveira, uma das moradoras que saíram de casa.
Além da falta de água, no fim da tarde de ontem, ainda há falta de energia em algumas localidades, como na Linha Ubirajara Baixa, onde a ventania derrubou postes. Por lá, não há previsão do retorno de luz.
Bombeiros empregaram força-tarefa
Para dar conta do trabalho, os bombeiros voluntários de Nova Petrópolis pediram socorro a um grupo de amigos que ajudou a fundar a instituição, há 25 anos: os jipeiros da cidade. Somente com o auxílio dos jipes era possível chegar à localidade de São José do Caí, já que a estrada tinha barreiras como queda de árvores e enxurradas, que formavam cachoeiras na beira dos acessos.
– Desde 2001 que não tínhamos uma situação dessas. Um riacho se formou na pista, usamos cordas para resgatar alguns moradores – relata o bombeiro voluntário Guilherme Haas.
O cenário na localidade de São Jose do Caí é desolador. Uma avalanche de terra e pedra deixou um rastro tão forte que desabou casas e ergueu árvores. Há barro para todo o lado. Distante cerca de 20 quilômetros da sede do município, o acesso, que antes ocorria pela BR-116, precisa agora ser feito pelo interior. Tomas Lucas da Silva saiu carregando a filha de três anos durante a enxurrada da segunda, e voltou ontem para ver os estragos.
– É horrivel, asssutador. Não sabemos como será daqui para frente – resumiu.
Situação é triste também no bairro Pousada da Neve. As duas casas que estão interditadas ficavam atrás de uma escavação, segundo vizinhos. Os estragos são visíveis nas rachaduras, no telhado levantado e nas paredes derrubadas. Roberto Argenta, que vive no bairro desde 2011, estava descansando quando escutou os gritos dos vizinhos.
– Eu escutei: "tá caindo! tá caindo". Quando vi, as crianças estavam sendo tiradas da casa, e uns jovens tiveram que esperar os bombeiros para saírem dali. Ficamos com muito medo – detalha, aos prantos.
Integrantes da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil avaliaram durante todo o dia de ontem as condições do município. Após, será definida a necessidade de decretar estado de emergência ou calamidade pública. Equipes da prefeitura de Nova Petrópolis, órgãos de segurança e voluntários seguem atuantes durante todo o dia para reparar os estragos.