
Um dia antes da votação da abertura do impeachment no plenário da Câmara, a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, cancelaram suas agendas previstas para este sábado para se concentrarem nas articulações em busca de apoio contra e a favor do afastamento, respectivamente.
Dilma cancelou a visita que faria na manhã deste sábado ao Ginásio Nilson Nelson em Brasília, onde se encontraria com representantes dos movimentos sociais que são contra o seu afastamento. Dilma quer dedicar o dia à consolidação de seus votos e, por isso, receberá, no Palácio da Alvorada, líderes de vários partidos, um a um.
Leia mais
AO VIVO: deputados discutem impeachment há mais de 24 horas
Dilma gravou pronunciamento para as redes sociais
Temer rebate Dilma e diz que manterá programas sociais
– A presidente achou que, neste momento, é mais importante ela receber os líderes e manter o radar para amanhã – disse um interlocutor de Dilma.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia decidido não ir ao evento, no entanto, foi ao acampamento dos representantes dos movimentos sociais no lugar de Dilma para animar a militância e fazer com que o grupo permaneça nas ruas "gritando contra o golpe". Em seu discurso, Lula comparou a briga voto a voto à bolsa de valores.
– Só temos 513 votos pra gente conquistar. Precisamos conquistar a metade, ou não deixá-los conquistar 342. É uma guerra de sobe e desce. Parece a bolsa de valores: tem hora que o cara tá com a gente, tem horas que não está mais. Tem horas que está do outro lado, tem horas que não está mais. Então a gente tem que conversar 24 horas – afirmou, abrindo o discurso de 10 minutos.
Depois do evento, Lula voltou ao hotel onde está hospedado para continuar recebendo deputados, na tentativa de reverter votos ou assegurar novas ausências na votação.
Há uma guerra de números e o governo comemora o fato de ter conseguido virar alguns votos – assegura, agora, que tem os 172 mínimos necessários. Mas a oposição também garante ter as 342 adesões pelo impedimento.
O que demonstra a preocupação de lado a lado é que Dilma e seus ministros vão ficar nos palácios do Planalto e Alvorada conversando com parlamentares. Ao mesmo tempo, o vice-presidente Michel Temer, que ia ficar em São Paulo acompanhando a votação, decidiu voltar para Brasília para fazer suas articulações e já desembarcou neste sábado na capital federal, segundo a sua assessoria. Lula também tinha decidido ir para São Paulo, mas acabou preferindo ficar em Brasília negociando.
Segundo a Folha de S.Paulo, Dilma decidiu focar a ofensiva em deputados federais do Norte e do Nordeste. Com a Ajuda de governadores das duas regiões, a presidente passa o dia telefonando para parlamentares com o intuito de recuperar terreno entre partidos ou, pelo menos, aumentar os casos de abstenções e ausências na votação em plenário, prevista para o domingo.
De acordo com o jornal, além de ministros, participam da ofensiva petista os governadores do Ceará, Camilo Santana (PT), do Piauí, Wellington Dias (PT), do Acre, Tião Viana (PT), e do Amazonas, José Melo (Pros).
A articulação do governo também estaria focada nas eleições municipais de outubro deste ano, onde serão eleitos prefeitos e vereadores. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, deputados governistas teriam confirmado a oferta de apoio na disputa municipal em troca de votos. Ao menos quatro deputados teriam desistido de votar contra o impeachment para receber apoio eleitoral.
Para evitar contrapropostas da oposição, os nomes envolvidos nas negociações não foram revelados. A eleição nacional de 2018 também teria entrado no pacote das negociações. O deputado Waldir Maranhão (PP-MA), segundo o jornal, teria desistido de votar a favor do impeachment depois de um acordo para ser o candidato ao Senado na chapa do governador do Estado, Flávio Dino (PC do B).
Entre os aliados de Temer, o clima era de aparente tranquilidade. Após se encontrar com o vice-presidente no Palácio do Jaburu, em Brasília, o presidente interino do PMDB, senador Romero Jucá (RR), afirmou à Folha que o grupo tem uma "reserva de votos".
– É natural que o governo tente fazer um esforço, não esperávamos que eles ficassem de braços cruzados. Mas confiamos que os parlamentares têm responsabilidade com o país – disse Jucá.