O prejuízo acumulado pelos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado produz reflexos dramáticos na Serra: a cada semana, casas de pequeno e médio porte encolhem a oferta de serviços para garantir o atendimento e evitar o fechamento. A situação tende a piorar com o provável corte de R$ 4 bilhões no orçamento do governo do Estado, medida que deve ser adotada para amenizar o agravamento do déficit.
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Na semana passada, a reportagem esteve em cidades ameaçadas pela crise hospitalar e encontrou um cenário desanimador. Pacientes de Canela, Gramado, Bom Jesus e Vacaria, por exemplo, dependem de instituições que se desdobram para oferecer o mínimo de consultas, exames e internações em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
Falta de esparadrapo a medicamentos essenciais para o tratamento de pacientes. A crise no interior tem alcançado Caxias do Sul, que acaba recebendo mais moradores de cidades onde o atendimento é precário. Não é uma situação exclusiva da Serra.
A estimativa da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul é de que o grau de endividamento das 245 instituições de saúde no Rio Grande do Sul ultrapasse R$ 1 bilhão. Mais de 60% das casas estariam com honorários de médicos atrasados. Além da defasagem da tabela SUS - cujo o valor de 1,5 mil dos 4 mil itens contratados seria insuficiente para cobrir os gastos, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), os gestores apontam outra justificativa: a falta e os atrasos de repasses à instituições por parte do Estado e da União. Seriam pelo menos R$ 300 milhões a menos de recursos encaminhados aos hospitais no ano passado.
Gestões problemáticas
Mas não se trata apenas de falta de recursos. Gestões equivocadas também estariam por trás dessa crise. Para evitar o colapso, prefeituras estão assumindo parte dos gastos e administrando hospitais por meio de comissões interventoras. Essas medidas foram adotadas recentemente em Gramado e em Bom Jesus. O Hospital de Canela estuda a transferência da gestão para uma nova empresa.
Num primeiro momento, pode ser uma saída para enfrentar as dificuldades, mas a solução não é recomendada pela Federação das Santas Casas.
- Não defendemos as intervenções por serem emergenciais. Muitas vezes, a prefeitura pode acabar gerando mais custos e dívidas para a instituição a longo prazo. Não é sempre que pode acontecer, mas há grande chance de dar errado - diz o presidente da Federação, Francisco Ferrer.
Professora do curso de Gestão Hospitalar da Unisinos, Liana Amorim, tem outro entendimento:
- O jeito é tentar minimizar os custos e zerar o desperdício nos hospitais. Cerca de 80% das instituições não trabalham sequer com orçamento, ou seja, nenhum tipo de planejamento financeiro.
Na próxima quinta-feira, instituições de saúde de todo Estado irão debater a crise na Assembleia Legislativa.
- O maior problema é que ninguém definiu que saúde é prioridade. Não podemos aceitar que a questão orçamentária seja desculpa para tudo. Não temos dinheiro para manter UTI, há intervenções em hospitais da Serra, o Pompéia teve prejuízo de R$ 5 milhões ano passado. O que podemos esperar para o futuro? - indigna-se Ferrer.
![Jonas Ramos / Agencia RBS Jonas Ramos / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/19150507.jpg?w=700)