Além de depredação, invasão, expulsão de moradores e venda de drogas em conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida, no bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, agora um desses condomínios serve de vitrine para reverenciar um fora da lei.
A parede de um prédio de apartamentos foi pintada em homenagem a Roger Pereira Madruga, 27 anos, apontado pela polícia como uma figura emergente no tráfico na região, assassinado mês passado ao cobrar uma dívida. O nome de Roger aparece cercado das frases "Uma estrela nunca se apaga", "Você foi um vencedor" e "Irmandade para sempre até a morte!!!".
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O edifício é o primeiro na entrada da Rua Domingos Manoel Mincaroni, onde fica o Residencial Jardim Paraíso, com 500 apartamentos, na Estrada do Barro Vermelho. No local, moradores consultados por Zero Hora afirmaram desconhecer a razão da mensagem, mas tudo indica ser uma atitude para enaltecer Roger, considerado pela polícia como gerente de uma gangue de traficantes do bairro Restinga.
Roger já foi processado por formação de quadrilha e furto, e, em ambos crimes, absolvido. Foi condenado por porte ilegal de arma, substituído por prestações de serviços comunitários, e lesões corporais, cuja pena foi extinta pela Justiça em 2011. Também foi acusado de uma tentativa de homicídio, em 2009 (que ainda respondia), e pelo assassinato de duas pessoas, em janeiro de 2011, quando outras três vítimas ficaram feridas.
Pelo duplo homicídio esteve preso preventivamente por um ano e respondia ao processo em liberdade desde novembro de 2012. Embora não tivesse punição por tráfico de drogas, o processo referente ao duplo homicídio contém relatos de que as mortes foram provocadas por disputas de bocas de fumo.
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– É triste ver a sociedade vangloriando alguém que fez mal às pessoas – lamenta a capitã Renata Miranda, oficial do 21º Batalhão da Polícia Militar.
Para o advogado Luiz Guilherme Maués, que foi defensor de Roger, trata-se de uma homenagem que pode ter partido de familiares ou de amigos. Roger foi executado em 10 de fevereiro, sentado no banco do carona de um Ônix que pertence a um sargento do Exército, no bairro Cristal, em Porto Alegre.
Relatos colhidos pela polícia apontam que Roger foi até um prédio falar com um ex-detento, suspeito do crime. Dois homens embarcaram no banco traseiro do veículo e dispararam contra Roger e o sargento. O militar fugiu baleado nas costas, mas Roger morreu, alvejado com pelo menos sete tiros de pistolas.
Inicialmente, o sargento disse que tinha ocorrido um tiroteio, e alguém tinha invadido seu carro. Depois, admitiu que conhecia Roger, mas apenas tinha dado uma carona a ele, que pretendia cobrar uma dívida referente a um automóvel.
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Conforme o delegado Rodrigo Garcia, que esteve no local do crime, parentes de Roger teriam dito que ele tinha se regenerado e estaria trabalhando com compra e venda de carros. No ano passado, uma imagem em grandes proporções do rosto do traficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, 35 anos, foi pintada no condomínio Princesa Isabel, no bairro Santana, onde ele comandava bocas de fumo. Dias depois, a polícia mandou apagar o desenho porque faria apologia ao crime. Agora, o Denarc avalia a homenagem a Roger.
Em residencial depredado, mais da metade dos moradores já se mudou
Considerado um foco de tráfico até o ano passado, o Residencial Ana Paula, quase do mesmo tamanho e inaugurado em abril de 2012 como o Jardim Paraíso, ainda expõe marcas da destruição provocadas por vendedores e usuários de drogas.
Os sinais estão na guarita de entrada sem portas ou vidraças e, em especial, em um dos salões de festas. As paredes estão pichadas com desenho de armas, faltam aberturas, sanitários, lâmpadas, fios elétricos, conexões de água e parte das telhas. Em outubro passado, o local foi alvo de uma operação da Polícia Civil – assim como o Residencial Camila – para prender traficantes que tomaram posse de apartamentos e expulsavam moradores, instalando bocas de fumo.
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Não há informações precisas se as famílias voltaram a viver lá depois da ofensiva policial. Conforme o Departamento Municipal de Habitação, mais da metade dos moradores que se cadastraram e compraram os apartamentos já se mudaram.
Invasão de moradias e tráfico de drogas em imóveis do Minha Casa Minha Vida são um problema nacional. Tanto que a Secretaria Nacional da Segurança Pública vem pedindo apoio das forças estaduais para reprimir esses crimes.
No Rio Grande do Sul foi criada, na semana passada, uma força-tarefa coordenada pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico. No bairro Restinga, são pelo menos quatro conjuntos habitacionais que estão sob monitoramento da polícia.
– Atuamos em 48% do território da Capital, e o nosso grande problema é o tráfico de drogas. Novos condomínios aumentaram a população do bairro, mas sem acompanhamento de outros serviços públicos como escola em tempo integral, assistência médica, redes de água e luz. E a falta desse suporte social influencia na segurança pública. Se sabe quando um jovem é ferido por causa da droga, mas não quando ficou sem escola, sem emprego – lamenta a capitã do 21º BPM Renata Miranda.