Sessenta e sete pessoas morreram no Rio de Janeiro em abril de 2010, todas elas vitimadas por deslizamentos de terra em morros tomados por habitações em áreas de risco. A tragédia foi causada por 313 milímetros de chuva em 24 horas, mas, à época, a cidade não estava preparada para lidar com severos eventos climáticos.
- Aprendemos muito a partir desse episódio trágico - diz Marcio Motta, subsecretário da Defesa Civil do Rio.
Leia também:
O que o temporal ensina a Porto Alegre
Terça-feira para Porto Alegre voltar à normalidade após temporal
VÍDEO: a devastação em quatro cartões-postais de Porto Alegre
Saídas para diminuir transtornos são caras e polêmicas, dizem especialistas
A prefeitura da cidade investiu, em 2010, R$ 2,8 milhões na compra de um radar meteorológico com alcance de 250 quilômetros, chegando às fronteiras com Minas Gerais e São Paulo. Ele consegue interceptar a intempérie e transmitir às autoridades informações valiosas.
- Indica em quanto tempo e com qual intensidade o fenômeno vai alcançar o Rio. Recebemos isso seis horas antes da chegada do evento - explica Motta.
Esse tempo é precioso. A prefeitura elaborou o Sistema de Alerta e Alarme em 103 comunidades da capital fluminense, todas elas com risco de deslizamento de terra. Os sinais sonoros avisam com antecedência sobre a possibilidade de chuva forte e, dependendo da ocasião, também solicitam evacuação da área. Nesses locais, residem e trabalham 2 mil agentes que recebem informações da Defesa Civil por mensagem telefônica. É papel deles repassar informações e, quando necessário, conduzir a população aos 194 abrigos construídos nas comunidades mapeadas como locais perigosos.
As equipes de trabalho, que envolvem diversos órgãos, desde prestadores de serviço até as polícias, unificam esforços no Centro de Operações Rio, com funcionamento permanente.
- Se tivermos novo evento climático severo, teremos condições de dar resposta forte. Se for necessário, certamente teremos mais de mil homens para trabalhar - relata Motta.
Já foram feitos 26 exercícios simulados de desocupação e, desde 2011, o sistema de sirenes foi acionado 14 vezes para desocupação em situações reais de chuva forte. Óbitos não foram mais registrados em desastres naturais no Rio.
Catarinenses investem em equipamentos e treinamento
Em Santa Catarina, em novembro de 2008, 46 pessoas morreram em enxurradas e deslizamentos ocasionados por 700 milímetros de chuva na região de Blumenau, Gaspar e Itajaí.
- Foi um marco divisor, ainda não estávamos preparados. Criamos um conceito de pronta-resposta operacional, uma força-tarefa permanente e capacitada - conta o tenente-coronel Cesar de Assumpção Nunes, comandante do Corpo de Bombeiros do Litoral de Santa Catarina.
Depois de 2008, foram investidos R$ 6,5 milhões em equipamentos. Foi construído um centro de treinamento para resgates urbanos e, agora, estão em desenvolvimento softwares que irão dar respostas antecipadas às autoridades sobre os fenômenos.
- O grande desafio é chegar antes do impacto. O que teria acontecido em Porto Alegre se todos soubessem o que estava por vir com uma hora de antecedência? - reflete Nunes, destacando como vantagens a mobilização prévia de equipes e a "autoproteção das comunidades".
Para ele, o Brasil terá de evoluir na prevenção e reação aos desastres naturais, "que serão cada vez mais frequentes e com maior intensidade". Não é possível impedir uma intempérie, mas ações de prevenção e reação podem minimizar danos e proteger vidas, avaliam especialistas.
O que foi feito em outros Estados
Rio de Janeiro
Conta com dois radares meteorológicos que informam, com seis horas de antecedência, o momento de chegada de intempéries e a sua intensidade.
As ações são comandadas a partir do Centro de Operações Rio, que aciona o Sistema de Alerta e Alarme em 103 comunidades, emitindo recados de atenção e sugerindo desocupação das casas em situações de risco.
Uma ventania de fortes proporções, como a que ocorreu em Porto Alegre, poderia demonstrar um ponto fraco do sistema do Rio. Em caso de queda das comunicações, o contato entre os agentes ocorreria por rádio amador, mas as sirenes de alerta teriam de ser acionadas manualmente, uma a uma, por causa da perda de sinal do Centro de Operações Rio. Seria um elemento complicador.
A partir de um acordo com operadoras de telefone, a Defesa Civil envia gratuitamente mensagens educativas e de alerta sobre clima para qualquer cidadão que desejar. Mais de 70 mil estão cadastrados no serviço - em Porto Alegre, esse serviço também está disponível.
Santa Catarina
Criou uma força-tarefa permanente do Corpo de Bombeiros para atender situações de emergência e resgate. O grupo conta com 12 homens em cada um dos 14 batalhões, totalizando 168 agentes treinados. Também dispõe de três caminhonetes, dois helicópteros e dois aviões, além de embarcações para casos de enchente.
Somente em 2015, a força-tarefa dos bombeiros de Santa Catarina foi mobilizada em sete ocasiões reais de chuva forte.
O Estado conta com dois radares meteorológicos. Em caso de queda nas comunicações por rajadas de vento, tem antenas próprias que mantêm sinais ativos para uso de rádio e telefone celular habilitado.
Depois do desastre de 2008, ocorreram novos eventos climáticos com mortes em Brusque, Rio do Sul e Blumenau.
Leia todas as últimas notícias sobre temporal em Porto Alegre