Familiares da dona de casa Rosângela Muzikant Peres, 35 anos, foram ao Cemitério Parque Memorial da Colina, em Cachoeirinha, na manhã de sexta-feira, com a intenção de sepultá-la. Seria o desfecho trágico de um drama iniciado no dia 4 de novembro passado, quando ela desapareceu.
Mas isso não aconteceu. No local do enterro, a família foi informada de que o corpo de Rosângela havia sido sepultado por engano, em Não-Me-Toque, como se fosse de um homem.
- Só quero dar, pelo menos, um enterro digno à minha filha - disse, num misto de tristeza, desespero e incredulidade a mãe de Rosângela, Dalila Muzikant Peres, 79 anos.
Entre outros parentes, estavam no cemitério os cinco filhos de Rosângela, com 14, 11, oito, sete e quatro anos.
Sindicância
A confusão, causada no DML de Passo Fundo, foi admitida pelo diretor do Instituto Geral de Perícias, Cléber Muller.
Ele disse que o avançado estado de decomposição dos corpos dificultou a identificação. Além disso, segundo ele, a profissional envolvida trabalha em Porto Alegre e foi cobrir férias de técnicos locais.
O diretor aponta ainda outras questões estruturais que têm sido uma constante e que teriam influenciado o erro: Rosângela foi encontrada morta em São Valentim do Sul, na Serra, e a necropsia deveria ter sido feita em Erechim. Mas problemas técnicos provocaram a transferência do exame para Passo Fundo.
O corpo do homem, morto em Não-Me-Toque, foi examinado em Erechim, mas, por problemas na câmara fria, foi levado para o DML de Passo Fundo, onde ainda permanecia nesta sexta-feira. Uma sindicância foi instaurada para apurar as causas da falha.
Pesadelo
A família de Rosângela já foi comunicada que haverá uma exumação do corpo enterrado em Não-Me-Toque, para a realização de um novo exame de DNA.
Rosângela
Foto: Reprodução
- Para nós, parece um pesadelo sem fim - disse na tarde de sexta-feira à reportagem do Diário Gaúcho a irmã de Rosângela, Laura Rosdiak, 50 anos. Com fotos de Rosângela, ela e a mãe, além de enfrentar a dor da perda, sofrem com a demora no desfecho do caso e com o drama vivido por toda a família.
- Os filhinhos dela estão sofrendo, está todo mundo sofrendo com isso. Amigos foram ao cemitério com flores e não conseguimos enterrá-la - disse.
Outra família
A preocupação estende-se à outra família envolvida, com a qual, mesmo não conhecendo, Laura se solidariza, até por compartilhar um mesmo drama.
- Eles enterraram uma pessoa errada e vão ter que passar por isso de novo - disse.
A mãe não se conforma.
- Primeiro, morrer desta forma violenta. Depois, passar por esta outra violência mesmo já estando morta. È demais - lamentou, com lágrimas nos olhos.
Drama já dura dois meses
Rosângela, que morava em Torres com o companheiro e os cinco filhos, desapareceu no dia 4 de novembro em Gravataí, onde residiam seus familiares. A uma amiga, revelou que iria a Caxias do Sul encontrar uma pessoa.
Em 21 de novembro, foi localizado um corpo no Rio Taquari, em São Valentim do Sul. A polícia de Guaporé, encarregada do caso, descobriu que era de Rosângela e que havia sido vítima de homicídio.
Por fotos, a família reconheceu as roupas. O corpo foi encaminhado para o DML de Passo Fundo, onde havia outro cadáver e uma ossada.
O reconhecimento definitivo viria no dia 23 de dezembro, com o resultado do DNA. Mas, antes, no dia 20, o corpo dela, que estava no necrotério de Passo Fundo, foi entregue a outra família e enterrado em Não-Me-Toque.