A defesa do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu afirmou, nesta sexta-feira, que o empresário ligado ao PT Fernando Moura, um dos delatores da Operação Lava-Jato, 'não tem credibilidade para ser ouvido como colaborador da Justiça'. Quatro advogados de Dirceu pediram ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava-Jato, que seja indeferido o pedido do Ministério Público Federal para novo interrogatório de Moura.
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"Diante das inúmeras e contraditórias versões apresentadas por Fernando Moura, as quais, sem sombra de dúvidas, demonstram não ter o acusado credibilidade para ser ouvido como colaborador da Justiça, requer-se: (i) Sejam desentranhados dos autos os documentos acostados nos eventos 660, 661 e 662, os quais foram colhidos em absoluta inobservância dos princípios do contraditório e da ampla defesa; e, (ii) Seja indeferido o pedido ministerial no sentido de que o colaborador Fernando Moura seja novamente interrogado nestes autos, haja vista que a produção da referida prova se mostra inócua diante do quanto acima ponderado", sustentou a defesa.
Na noite da quinta-feira, a Procuradoria requereu a Moro que ordene novo interrogatório de Moura em razão de 'flagrante contradição' no depoimento que ele prestou na sexta-feira e um trecho de sua colaboração premiada, firmada em agosto de 2015. O pedido foi subscrito por onze procuradores da República que compõem a força-tarefa da Lava-Jato. Eles destacam 'a prova falsa produzida por Fernando Moura em juízo'.
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Nesta quinta, Moura foi ouvido pelos procuradores e confessou 'ter mentido' para Moro. Com isso, ele tenta salvar os benefícios que poderia ter como colaborador da Lava-Jato. Os procuradores entregaram ao juiz o depoimento gravado do empresário.
Em documento de oito páginas, os advogados de Dirceu questionam 'valor probatório do depoimento de um colaborador que apresentou uma versão num primeiro momento, a desmentiu em Juízo e diante do contraditório e, agora, sem apresentar uma justificativa convincente para tanto, tentou apresentar uma terceira versão, mas, diante dos questionamentos insistentes do Procurador e da possibilidade de perder todos os benefícios do acordo de colaboração celebrado, decidiu ratificar suas primeiras declarações'.
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O trecho dos relatos de Moura que irritou os procuradores é relativo ao motivo de sua saída do país, em 2005, supostamente por sugestão do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu – réu e preso da Lava-Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na delação que firmou para se ver livre da prisão, o empresário afirmou em agosto de 2015 que 'resolveu se mudar para Paris após receber a 'dica' de José Dirceu para 'cair fora'.
Na sexta-feira passada, diante do juiz Sérgio Moro, em audiência formal no processo em que também é réu, Fernando Moura apresentou uma versão diferente. O juiz perguntou: "O sr mencionou que na época do Mensalão o deixou o país por qual motivo?' O delator respondeu: "Eu deixei o pa … ai nessa declaração, até ai que depois que eu assinei que eu fui ler, eu disse que foi que o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso. Eu, eu saí, porque saiu uma reportagem minha na Veja, em março de 2005."
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Sérgio Moro lembrou ao empresário que na delação ele deu aquela versão, atribuindo a Dirceu a ideia de deixar o país. "Falei isso?", questionou Moura. "Falou", disse Moro. "Assinei isso?", perguntou o empresário, rindo. "Devem ter preenchido um pouquinho mais do que eu tinha falado. Mas se eu falei, eu concordo."
"Não, não é assim que a coisa funciona", repreendeu Moro.
"Se eu falo e depois é colocado no papel, eu nem leio. Eu até pergunto para o advogado, 'é isso aqui?'. Falou: 'é'", afirmou.
*Estadão Conteúdo