Manifestações de apoio postadas nas redes sociais levaram o pai do soldado da Brigada Militar, Marlon da Silva Correa, 29 anos, morto em uma troca de tiros com assaltantes na Capital, a fazer um desabafo no Facebook.
No começo da manhã desta terça-feira, enquanto esperava a liberação do corpo do filho no Instituto-Médico Legal (IML), em Porto Alegre, o pai, Cilon Régis Correa, publicou:
"Ele caiu lutando, defendendo a sociedade, com honra, bem como o ensinei. Ótimo filho, honesto, carinhoso, amoroso. O vagabundo puxou o gatilho, incentivado pela inoperância do Estado diante do caos em que vivemos. Coloco esta morte na conta deste governo e toda sua cúpula e vou cobrar. Me dói, vou sentir muita falta, mas te amarei e lembrarei para sempre de ti meu filho."
Veja a íntegra do post abaixo:
Posted by Cilon Regis Correa on Terça, 22 de dezembro de 2015
Para um pai q ama seus filhos, ter q enterra- lo, inverte a ordem da vida. Foi uma semana de sofrimento, de oração, de...
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O depoimento revela um misto de tristeza, dor e revolta que tomou conta do pai e de colegas de farda de Marlon. Eles apontam a precariedade de equipamentos e veículos da BM e contestam declarações do comando de que as armas passam por manutenção.
- Não ocorre manutenção. O modelo que Marlon usava era defasado. A pistola dele trancou. Não liberou o projétil que foi deflagrado e acabou alimentando outro, deixando ele empenhado. Não fosse por este fato, não teria sido morto - comenta um policial militar que não quis ter nome divulgado com medo de sofrer represálias.
Ser policial, era sonho do jovem
Cilon Régis Correa, integrante do Sindicato dos Municipários de Santa Maria, conta que entrar para a Brigada Militar sempre foi o desejo do filho. Marlon nasceu em Santa Maria, estudou e chegou a começar o curso de Direito, mas largou e, escondido do pai, fez o concurso da BM, em Porto Alegre, onde ingressou em 2009.
O soldado trabalhou por um tempo na Penitenciária Estadual de Jacuí e voltou para Porto Alegre neste ano. Atualmente, atuava no 20º Batalhão da BM, na Zona Norte.
O dia anterior à morte, Marlon passou com o pai em Santa Maria. O domingo foi de descontração e de churrasco, comida preferida do jovem. Ele assumiu o serviço às 6h da segunda-feira. Horas depois, durante o atendimento de uma ocorrência, ele o colega foram avisados por uma pessoa sobre um assalto à loja de materiais esportivos, perto de onde estavam com a viatura, na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, no bairro Protásio Alves, zona norte da Capital.
Ao chegar ao local, os policiais perceberam um homem deixando a loja carregando supostamente os objetos roubados, e o detiveram. Nesse momento, outros três assaltantes saíram do estabelecimento atirando. Os soldados revidaram. Marlon teria acertado um dos bandidos. Em seguida, a arma que ele usava, uma pistola 940mm falhou e ele teria tentado encontrar um local para se abrigar, quando levou quatro disparos pelas costas. Um deles, na altura do peito, atingiu colete à prova de balas. Os outros três acertaram o jovem no pé, no braço e na altura da cintura, perfurando pâncreas, intestino e veia cava.
Marlon foi socorrido e levado ao Hospital Cristo Redentor. Segundo o pai, "ele entrou no hospital caminhando." Passou por cirurgia, mas teve complicações e uma infecção generalizada, que o levaram à morte, às 22h desta segunda-feira, uma semana após ter sido baleado. Ele era casado e tinha uma filha de nove anos.
O corpo do jovem foi encaminhado ao IML da Capital no começo da manhã desta terça-feira e deve chegar em Santa Maria apenas no final da tarde. O velório acontece na capela 3 do Hospital de Caridade. O sepultamento está marcado para as 11h de quarta-feira no Cemitério São José.