Não se sabe por quanto tempo o senador Delcídio Amaral (PT) e o banqueiro André Esteves permanecerão presos, mas o impacto das suas detenções na sociedade brasileira promete ser significativo.
Senado Federal mantém prisão do senador Delcídio Amaral
Especialistas avaliam que a prisão de duas figuras do olimpo político e econômico do país - âmbito historicamente associado à impunidade - dá força inédita a instituições como Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário. Além disso, fragiliza recursos utilizados por suspeitos de corrupção como o foro privilegiado.
As quedas do líder do governo federal no Senado e do presidente do banco BTG Pactual, um bilionário reconhecido dentro e fora do país, eleva a um novo patamar as prisões de nomes de relevo desde o início das investigações do Mensalão. Caciques políticos como José Dirceu e agentes do mercado financeiro como a ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, já foram parar atrás das grades.
Em fases anteriores da Operação Lava-Jato, alguns dos principais empreiteiros do país também foram encarcerados. Mas, segundo cientistas políticos e economistas, a detenção de Delcídio e Esteves alcança um status simbólico ainda maior - um é o primeiro senador preso no exercício do mandato desde a redemocratização, e o outro é um dos homens mais ricos e influentes do Brasil.
- Foi dado um passo muito importante para se instaurar a República no Brasil. Temos uma República nominal, mas não real, na qual a prerrogativa de foro dos políticos é uma negação direta do princípio da igualdade de todos perante a lei - afirma o professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, Roberto Romano.
Para Romano, a ação das autoridades nesta quarta-feira demonstra que há "um maior rigor contra aqueles que se julgavam acima do bem e do mal". Esse rigor, conforme o cientista político e doutor em Sociologia Murillo de Aragão, deve ser creditado à "vitalidade" das instituições brasileiras.
- Apesar da lentidão do nosso processo de democratização, as prisões demonstraram muita vitalidade e independência das nossas instituições. A autorização foi dada por um ministro do STF (Teori Zavascki) indicado pelo próprio governo, então não há que se falar de influência política - comenta Aragão.
O economista e cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas afirma que a liberdade de ação de órgãos como Ministério Público e Polícia Federal tem sido fundamental para apertar-se o cerco contra os suspeitos de alta linhagem política ou econômica.
- Isso indica a institucionalização dos nossos poderes constituídos, que existiam, mas não podiam atuar. Esse mérito deve ser dado a Dilma. As instituições estão funcionando. Mas só acredito em redução da corrupção quando o grupo atual sair do poder - analisa Caldas.
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Para Aragão e Romano, a menor sensação de impunidade pode levar, no futuro, a um ambiente menos favorável à corrupção. No curto prazo, porém, os principais impactos das detenções envolvem os bastidores políticos e o cenário econômico.
- Do ponto de vista econômico, a prisão do Delcídio é até mais importante do que a de Esteves, por se tratar do líder do governo no Senado e dificultar ainda mais que o nó fiscal do governo seja desatado. Uma das principais razões para o rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de risco foi justamente o ambiente político conturbado - avalia o economista-chefe da agência Austin Rating, Alex Agostini.
Segundo Murillo Aragão, as prisões representam uma "bomba" em termos políticos:
- É um fato novo, histórico, lamentável, vergonhoso para o Senado e para o sistema político brasileiro. Mas, sendo comprovadas as evidências, era mais do que necessário.