O Rio Doce avermelhou no Centro de Colatina, no Espírito Santo. A lama, que chegou durante a madrugada desta quinta-feira apressada pela chuva, chamou a atenção dos moradores do município de pouco mais de 122 mil habitantes. Muitos foram para a orla da cidade, transformada em camarote de um dos maiores desastres ambientais do país.
- É de partir o coração. Se trata de vidas de peixes, animais que estão morrendo por causa dessa catástrofe em Minas. Se não houver um tratamento, se o pessoal não olhar com carinho para o rio e recuperar ele, vai acabar - lamenta o inspetor penitenciário Marcelo Dias.
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Muitas espécies de peixes embarcaram na Arca de Noé, como foi batizada uma força-tarefa de pescadores de Colatina e de outros municípios capixabas que são banhados pelo Rio Doce, como Baixo Guandu e Linhares. Alguns peixes ainda resistiam na manhã desta quinta-feira e continuavam sendo retirados da água.
O casal de aposentados Omeris Romaña e Maria de Lourdes Romaña tentam entender o que aconteceu. O abastecimento de água em casa foi cortado e o rio, que era límpido e cheio de vida, morreu da noite para o dia, aos olhos de pessoas que sempre o contemplaram.
- Para mim é espantoso, né? Porque a gente não esperava um acontecimento desses. Fora o estrago que fez na fauna, a falta dágua, água contaminada. Eu acredito que vá levar muitos anos para poder voltar ao estado normal, ao que era antes - diz Romaña.
- A gente abre uma torneira, não sai água. É difícil. Todo mundo economizou, guardou, mas não é como ter água potável, né? - acrescenta Maria de Lourdes.
Mais de 100 homens do Exército chegaram no domingo ao município para ajudar na distribuição de água à população, que teve o abastecimento interrompido no mesmo dia. Estão sendo perfurados poços artesianos, há caminhões-pipa espalhados por toda parte e reservatórios provisórios com capacidade de 20 mil litros em pontos mais altos da cidade. São mais de 50 pontos de distribuição e cada pessoa tem direito a 50 litros. A procura, porém, ainda é baixa, segundo o Exército.
- O abastecimento de água está suspenso, mas ainda não houve uma procura nos pontos de distribuição. Acreditamos que as pessoas se prepararam bem para enfrentar essa situação - explica o capitão Thiago de Albuquerque, um dos militares que organizam o "quartel-general" montado em Colatina.
Agora, a lama da barragem de Mariana segue seu caminho em direção a Linhares, no litoral do Espírito Santo. Segundo a Defesa Civil estadual, a tendência é de que ela chegue ao município entre esta quinta e sexta-feira. No entanto, a instabilidade da correnteza do Rio Doce e os ventos fazem com que a previsão seja incerta, podendo mudar a qualquer instante.
Depois de Linhares, o único destino da lama é o Oceano Atlântico.
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Zero Hora percorre o rastro de devastação provocado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco ao longo do curso do Rio Doce. A primeira parada foi na localidade de Bento Rodrigues, no município de Mariana, que registrou mortes, desaparecimentos e foi praticamente extinta. A segunda parada foi em Paracatu de Baixo, também em Mariana (MG), onde a lama destruiu as casas e se acumula em blocos de um a dois metros de altura. Em seguida, nossos repórteres visitaram Rio Doce e Governador Valadares. Em outra frente, no Espírito Santo, a reportagem já passou por Colatina e segue em direção ao litoral capixaba. Veja abaixo todas as matérias que já foram publicadas: