A abertura de investigações sobre lobby feito no Peru pelo ex-ministro brasileiro José Dirceu chamou a atenção para uma personagem pouco conhecida nos meios políticos do Brasil, a consultora Zaida Sisson. A brasileira Zaida foi quem intermediou contatos do ex-ministro da Casa Civil do Brasil com autoridades do governo Alan García (presidente peruano entre 2006 e 2011).
Dirceu fez lobby, entre outros, para as empreiteiras Engevix e OAS. Ele é alvo de investigação da Fiscalía Especializada Anticorrupción do Peru, o equivalente naquele país à Procuradoria-Geral da República no Brasil. Conforme revelou esta semana Zero Hora, o ex-ministro brasileiro - preso desde agosto em Curitiba, por conta da Operação Lava-Jato - é suspeito de intermediar repasses de dinheiro de empreiteiras brasileiras para integrantes do governo García, mas também apurado se o esquema teria se prolongado até o governo do atual presidente peruano, Ollanta Humala. Várias obras resultantes desse lobby são investigadas (veja abaixo).
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A intermediação de cinco viagens de Dirceu ao Peru teria contado com ajuda de Zaida Sisson, casada com Rodolfo Beltrán Bravo, um ex-ministro da Agricultura do primeiro governo de Alan García (ainda nos Anos 80). Investigações da Operação Lava-Jato no Brasil mostram que Zaida recebeu 20 transferências bancárias realizadas pela JD Consultoria (de José Dirceu) entre 16 de janeiro de 2009 e 16 de novembro de 2011, que somam R$ 364.398.
Zaida não nega que tenha atuado para Dirceu, mas assegura que tudo transcorreu dentro da legalidade. Segundo os advogados dela, Pedro Agatão e Eduardo Kuntz, a consultora era atuante na Câmara de Comércio e Integração Brasil-Peru.
- Nada mais natural que ela promovesse aproximação de empresas brasileiras com o governo peruano. Foi tudo oficial, nada na calada da noite ou de forma clandestina - pondera Agatão.
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O trabalho de Zaida, diz ele, consistia em apoiar as empresas em sua fase de instalação em um novo país, alertar sobre legislação, normas legais, laborais, indicação de profissionais competentes, identificação de projetos pela via legal e transparente do setor público, a pessoas que desejavam trabalhar com o Peru. Fez isso para José Dirceu e muitos empresários.
Zaida é averiguada na Lava-Jato - assim como todos que tiveram contratos firmados com a JD, de José Dirceu -, mas seus advogados garantem que ela jamais cometeu ilegalidades. Tanto que a Justiça negou busca e apreensão em sua residência em São Paulo.
- Tudo tem nota e está justificado perante o Imposto de Renda - conclui Agatão.
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Obras sob suspeita
Restauração da rodovia Huaura-Sayán-Churín-Ponte Tingo
- Obra da construtora Andrade Gutierrez S.A.
- Contrato do governo Alan García.
- Investimento estimado, em 2012: US$ 146 milhões, mas chegou a US$ 169 milhões, com 18 aditivos.
-Situação atual: ainda não concluída.
Construção da Avenida Néstor Gambetta, em Callao
- Obra das construtoras Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez.
- Contrato do governo Ollanta Humala.
- Investimento estimado em 2014: US$ 250 milhões.
- Situação atual: ainda não concluída.
Melhoria de Estação de Tratamento de água em Huachipa
- Obra da Galvão Engenharia.
- Contrato do governo Alan García.
- Investimento estimado em 2008: US$ 108 milhões, mas chegou a US$ 284 milhões pelos aditivos.
- Situação: foi inaugurada em outubro de 2011.
Restauração da estrada Quilca-Matarani
- Obra da Camargo Corrêa.
- Contrato do governo Ollanta Humala.
- Investimento estimado em 2013: US$ 45 milhões. Foram feitos cinco aditivos e o custo pulou para US$ 172 milhões.
- Situação: ainda não concluída.
Obras complementares na Rodovia Interoceanica Sur
- Obra do Consórcio Intersur (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e construtora Queiroz Galvão).
- Investimento estimado em 2005: US$ 198 milhões, mas o custo final foi de US$ 667 milhões em 2009, ano em que foi concluída.
Projeto de Irrigação Chavimochic, Etapa III (deserto de Trujillo)
- Obra da Construtora Engevix.
- Contrato de um governo regional da província de La Libertad.
- Investimento estimado: US$ 900 mil.
- Situação: obra iniciada em março de 2012 e ainda não concluída.