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Dezessete dias após os atentados que deixaram 130 mortos, Paris reúne a partir desta segunda-feira, ainda sob a ameaça do terrorismo, representantes de 195 países com o desafio de costurar um novo acordo climático para conter o aquecimento global. A 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21) vai tentar conquistar um feito inédito em duas décadas de negociações: um tratado com compromissos legais envolvendo todas as nações.
A expectativa é de que o acordo substitua o Protocolo de Kyoto, que expirava em 2012, mas acabou sendo estendido até 2020. Assinado em 1997, só entrou em vigor oito anos depois, e é a única ferramenta que compromete 37 países industrializados e União Europeia a reduzir os gases de efeito estufa. À época, a intenção era de que os países desenvolvidos reduzissem suas emissões em 5% em relação a 1999. Segundo maior poluidor mundial, os Estados Unidos não ratificaram o protocolo.
O objetivo da Conferência do Clima de Paris é um acordo para limitar o aquecimento global a 2°C, para além do qual os cientistas acreditam que os eventos extremos, como a secas, elevação do nível dos oceanos ou deslocamento maciço de populações levariam o mundo a uma catástrofe. Para atingir essa meta, será necessário uma redução das emissões de gases do efeito estufa, mas a formulação deste objetivo pode ser muito precisa.
Ao menos 161 países anunciaram seus objetivos nacionais para reduzir ou limitar as emissões de gases do efeito estufa antes de 2025 ou 2030. Se respeitarem seus compromissos, a alta prevista da temperatura mundial passaria de mais de 4ºC a 3ºC, um nível ainda insuficiente. A proposta do Brasil é reduzir as emissões em 37% em relação a 2005. Naquele ano, foram emitidas 2,1 giga toneladas de dióxido de carbono equivalente. O país também se propõe a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030.
Mais de 40 mil participantes são esperados nas duas semanas de conferência, incluindo jornalistas, representantes de países e membros da sociedade civil. No total, 147 chefes de Estado são aguardados para a abertura oficial, que ocorre nesta segunda-feira. Entre eles, Barack Obama (Estados Unidos), Xi Jinping (China), Angela Merkel (Alemanha), Dilma Rousseff (Brasil) e Enrique Peña Nieto (México).
Segurança reforçada
Quase 11 mil policiais foram mobilizados para garantir a segurança do evento. O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, afirmou que 8 mil policiais foram mobilizados nas fronteiras do país e outros 2,8 mil serão deslocados para a sede da conferência em Le Bourget, subúrbio norte de Paris.
As autoridades francesas temem a ação de pequenos grupos de extrema-esquerda durante a COP21 e o ministro recordou que os prefeitos podem proibir as manifestações em todo o território, como parte do estado de emergência em vigor desde os atentados de 13 de novembro. Uma grande manifestação a favor do clima prevista inicialmente para o domingo foi proibida pelo governo depois dos atentados, assim como outra manifestação prevista para 12 de dezembro, um dia depois do encerramento da COP21.
Promessas
Antes do início da 21ª Conferência do Clima, países entregaram à ONU seus compromissos de redução de gases de efeito estufa. Confira as promessas das maiores economias mundiais.
ESTADOS UNIDOS
Segundo maior poluidor mundial, quer reduzir de 26 a 28% suas emissões até 2025, com relação a 2005. Trata-se de um objetivo menor do que o dos europeus, mas que vai mais além de contribuições anteriores dos Estados Unidos.
CHINA
É o maior poluidor mundial e comprometeu-se, pela primeira vez, a limitar emissões de gases de efeito estufa até 2030. Além disso, quer reduzir em 60 a 65% sua intensidade-carbono (emissões de CO2 relativas ao crescimento) em 2030, ante a 2005.
JAPÃO
Sexto no ranking de poluição, espera reduzir suas emissões em 26% entre 2013 e 2030. Para atingir o objetivo, conta com um retorno à energia nuclear, inutilizada após a catástrofe de Fukushima.
UNIÃO EUROPEIA
O bloco, que responde por 10% das emissões, terceiro posto mundial, foi o primeira a divulgar seu plano, em março: reduzir pelo menos 40% de hoje a 2030 suas emissões relativas a 1990.
ÍNDIA
A Índia, quarto contaminante mundial, prometeu reduzir sua intensidade-carbono em 35% de hoje a 2030 com relação ao nível de 2005, mas sem estabelecer objetivo de redução global de emissões.
BRASIL
O país espera reduzir em 37% suas emissões até 2030, com relação a 2005, diversificando suas fontes de energia renováveis. O plano brasileiro foi bem recebido, embora algumas ONGs considerem insuficiente o esforço contra o desmatamento.