Alvo de um possível processo de privatização, o Zoológico de Sapucaia do Sul entrou na mira de furtos que expuseram a precária estrutura de segurança do local. Onze animais (nove pássaros e dois porcos-selvagens) foram levados do parque em um intervalo de uma semana em setembro. Nos meses anteriores, também houve arrombamentos e troca de tiros entre vigilantes e indivíduos avistados na madrugada. Os casos são investigados pela Polícia Civil.
Em junho, entre R$ 6 mil e R$ 10 mil foram levados de um cofre do zoo. No mês seguinte, houve o tiroteio, e os suspeitos fugiram sem levar nada. Em setembro, roubaram ferramentas de um galpão, e, a partir daí, tiveram início os furtos dos bichos: três papagaios no dia 17, dois suínos da espécie queixada no dia 23 e outros seis pássaros no dia 24.
Dois porcos da espécie queixada (foto) estão entre os animais furtados
Foto: Fernando Gomes
- Fica evidente a deficiência na segurança do local - avalia o titular da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Sapucaia do Sul, Luis Fernando Martins Oliveira.
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Depois do mais recente furto, a direção do zoo encaminhou um documento à DP pedindo ajuda. O texto diz que o parque tem sofrido "sucessivos assaltos, inclusive com extrema sofisticação a ponto de arrombarem locais protegidos", que preocupam "principalmente quanto às grandes feras, o que acarretaria uma tragédia".
Documento enviado pelo zoo à 1ª DP de Sapucaia do Sul
Foto: Débora Ely
Para a administração do zoo, se trata de uma quadrilha especializada, mas a polícia ainda não tem suspeitos. Há informações de que os animais tenham sido oferecidos para venda nas imediações do parque, porém, nem o tráfico internacional está descartado. A Delegacia do Meio Ambiente (Dema) deve assumir as investigações sobre o furto dos bichos.
Papagaio de peito roxo (foto) também está entre os bichos levados
Foto: Fernando Gomes
Cinco seguranças monitoram parque à noite
Cinco seguranças são responsáveis pelo monitoramento dos 160 hectares de área cercada do zoológico à noite. Proporcionalmente, cada vigilante tem de cuidar de uma área de tamanho equivalente ao Parque da Redenção, em Porto Alegre. Diretor-executivo do zoológico, Paulo Ricardo Salerno admite a deficiência:
- A gente faz o possível.
A segurança é feita por uma empresa terceirizada, o Grupo Epavi, contratado por meio de licitação. Por mês, a Fundação Zoobotânica paga R$ 118 mil pelo serviço, renovado em 2014 por mais cinco anos. Câmeras de monitoramento e sistema de alarme dos prédios estão desligadas há anos, diz Salerno. A direção estuda recolocá-los em funcionamento, mas, em função do corte de orçamento decorrente da crise financeira que enfrenta o Estado, não há sinais de reativação.
É a melhoria nas estruturas do zoológico que sustenta a justificativa do Palácio Piratini de concedê-lo à iniciativa privada - ideia que revolta servidores, temerosos pelo futuro de seus empregos. O lançamento de um edital para privatização está em estudo pela Secretaria do Planejamento, Mobilidade e Desenvolvimento Regional, mas não há previsão de lançamento.
Em paralelo, tramita na Assembleia Legislativa o projeto de lei que prevê a extinção da Fundação Zoobotânica, responsável pelo zoo. Depois de causar alvoroço entre servidores, pesquisadores e ambientalistas, o Piratini retirou o regime de urgência da proposta. O texto passa por análise de comissões e não tem previsão de votação.
* Zero Hora