Cenário da assinatura do histórico acordo que pôs fim à Revolução de 1923, o castelo de Pedras Altas - colocado à venda pelos herdeiros de Joaquim Francisco de Assis Brasil - pode parar nas mãos de uma ONG ou de um jogador de futebol. Preocupada com o destino da propriedade, tombada pelo Estado e em processo de tombamento nacional, a Procuradoria da República de Bagé abriu inquérito civil para acompanhar o caso.
ONG religiosa pretende comprar castelo histórico de Pedras Altas
Inaugurada em 1913, a construção fica no município de Pedras Altas, a 410 quilômetros de Porto Alegre (35 deles em estrada de chão), na fronteira com o Uruguai. Por se tratar de uma propriedade tombada, a prioridade de compra seria do governo - em qualquer de suas esferas. Entretanto, o prazo para manifestação de interesse se encerrou sem que município, Estado ou União apresentassem propostas. Assim, os herdeiros ficaram livres para negociar.
MISTÉRIO E OFERTA DE R$8,5 MILHÕES
Propriedade privada, ainda que de interesse público, o local independe de autorização oficial para ser negociado, e a preocupação de quem quer preservá-lo é de que, uma vez vendido, não receba os cuidados de manutenção exigidos a imóveis tombados.
Para completar, as poucas informações sobre os interessados deixam os guardiões do castelo de orelha em pé. Negociando a compra do castelo há dois anos, a ONG associação Missão África (AMA), instituição que teria sede em Moçambique, ofereceu
R$ 8,5 milhões, depois de ver o preço da propriedade despencar dos R$ 15 milhões pedidos inicialmente pela família. Outro detalhe: todos os contatos feitos pela residente da organização, Sônia Maria Reis Guchiski, com a corretora responsável pela venda, Vera de Lima da Costa Barboza, foram por telefone. Sônia sequer conhece o castelo pessoalmente, mas formalizou uma proposta por meio de minuta de contrato assinada. O pagamento seria feito via depósito bancário.
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- As informações são preocupantes. Não sabemos nada desta associação. Há um questionamento grande em relação
a isso - diz Everton Luiz Resmini Meneses, primeiro promotor da Promotoria de Justiça Especializada de Bagé.
Diante da pressão de órgãos e entidades ligados à preservação do patrimônio, como os institutos do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado
(Iphae) e Nacional (Iphan), a própria corretora tratou de arrefecer a negociação com a ONG, passando a oferecê-la a outros possíveis interessados.
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Vera revela que um jogador de futebol gaúcho, que atua no Exterior, seria um dos potenciais compradores e poderia, em breve, visitar Pedras Altas:
- Como vi que não daria negócio com a ONG, resolvi ir para outros lados. Já passei documentação, fotos, disse o que fica e o que não fica na propriedade. Ele ficou
superinteressado.
Patrimônio histórico
Futuro incerto para o castelo de Pedras Altas
Construção tombada pelo Estado foi cenário do fim da Revolução de 1923
Marcelo Monteiro
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