Um dos jornalistas mais conhecidos e respeitados do Brasil, Caco Barcellos foi o terceiro convidado do projeto Em Pauta ZH - Debates sobre Jornalismo, promovido por Zero Hora na noite desta quarta-feira. Natural de Porto Alegre, Caco, 65 anos, tem quatro décadas de experiência e está à frente do programa Profissão Repórter, da TV Globo, desde 2006.
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Para uma plateia formada por profissionais de comunicação, estudantes e professores universitários e funcionários do Grupo RBS, Caco falou sobre a cobertura de episódios relacionados à violência urbana, a obtenção de informações e a credibilidade do repórter. O jornalista criticou distorções comuns presentes nas abordagens da imprensa brasileira, além da repetição e da inflexibilidade nos noticiários.
- A imprensa está com o olhar virado para outras realidades neste momento. Está muito focada em Brasília, centrada demais no Paraná (em referência à Operação Lava-Jato). Como função jornalística, pouco sobra para a gente. Este momento da história do país está pouco voltado para as necessidades das pessoas. A população mais pobre e negra parece que não está na pauta.
Citando dados da Receita Federal sobre o Imposto de Renda - 71,4 mil contribuintes declararam ter renda mensal média na faixa de R$ 300 mil -, acrescentou:
- Me parece que, às vezes, nossa visão de mundo está mais atenta a esse grupo. Deveríamos estar mais atentos a nossa grande Etiópia do que a nossa pequena Suíça.
Caco relembrou a recente chacina nas cidades de Osasco e Barueri, em São Paulo, no mês passado. Jantava em um restaurante quando o filho, que o acompanhava, foi alertado por telefone sobre o episódio. Ambos interromperam a refeição e rumaram para os locais dos crimes. Mais uma vez, o jornalista criticou a postura da mídia, habituada a descrever os personagens envolvidos em ocorrências policiais destacando sempre a existência ou não de antecedentes criminais.
- Essa maldita palavra que a imprensa usa: tem passagem (pela polícia), não tem passagem. Como se fosse legítimo matar quem tem passagem. Quando um veículo repete isso está ajudando a legitimar a morte - indignou-se. - Quem somos nós para afirmar que alguém é bandido? Que prepotência é essa?
Caco se declarou "encantado e também preocupado" diante do amplo acesso do público às redes sociais, defendendo a importância do papel do jornalista como filtro e organizador de informações.
- É um espaço para linchamento moral público, todo mundo está dando opinião. É fundamental a ação do repórter na separação desses exageros.
Debate
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