O presidente interino de Burkina Faso, Michel Kafando, o primeiro-ministro, Isaac Zida, e dois ministros eram mantidos reféns nesta quarta-feira no Palácio Presidencial, em Uagadugu, pelo Regimento de Segurança Presidencial (RSP), a guarda pretoriana do ex-presidente Blaise Compaoré - informou uma fonte oficial.
Os militares "invadiram a sala do Conselho de Ministros às 14h30 e fizeram reféns o presidente de Faso, Michel Kafando, o primeiro-ministro, Isaac Zida, e dois ministros (de Funções Públicas, Augustin Loada, e de Urbanismo, René Bagoro)", afirmou o presidente do Conselho Nacional de Transição, Cheriff Sy, em um comunicado transmitido para a AFP.
"Essa enésima invasão do RSP é um atentado grave contra a República e suas instituições. Convoco todos os patriotas a se mobilizarem para defender a pátria-mãe", declarou Sy.
Enquanto isso, tropas do Exército atiravam para dispersar uma multidão que protestava do lado de fora do Palácio Presidencial, na capital.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, expressou sua indignação nesta quarta com a ação da guarda presidencial de Burkina Faso.
"Este incidente é uma violação flagrante da Constituição e da Carta de Transição de Burkina Faso", criticou Ban.
A ONU, a União Africana (UA) e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) reagiram à situação, duramente, em nota divulgada nesta quarta à noite.
"A UA, a Cedeao e as Nações Unidas exigem a libertação imediata e incondicional dos reféns", declaram as organizações, em nota conjunta publicada na página institucional da UA.
"Os autores desse sequestro inaceitável responderão por seus atos e serão considerados responsáveis por qualquer tentativa contra a integridade física do presidente de Faso, do primeiro-ministro e das outras personalidades que eles mantêm detidos", acrescenta o comunicado.
As três organizações "condenam, nos mais duros termos, essa violação flagrante da Constituição e da Carta de Transição" e "exigem que as forças de Defesa e de Segurança se submetam à autoridade política e, no contexto atual, às autoridade da transição".
Nações Unidas, UA e Cedeao reafirmam sua "determinação, em apoio às autoridades nacionais, a usar quaisquer recursos para garantir a realização bem-sucedida da transição em Burkina Faso".
Em sua página no Facebook e no Twitter, o movimento que funcionou como ponta de lança nos protestos contra o ex-presidente Compaoré convocou uma manifestação para "dizer 'não' ao golpe de Estado em curso", um apelo amplamente compartilhado pelas redes sociais.
Desde a queda de Blaise Compaoré, em outubro de 2014, Burkina Faso é governada por autoridades interinas, dirigidas pelo presidente Michel Kafando e pelo primeiro-ministro Zida. Esse grupo deve deixar o poder após as eleições presidenciais e legislativas previstas para acontecer em outubro próximo.
Compaoré foi derrubado pela pressão das ruas em outubro de 2014, após 27 anos no poder. Em diferentes ocasiões desde então, sua Guarda Pretoriana tem tumultuado a transição no país.
* AFP