Quase no topo do desonroso ranking das capitais com maior inflação do país, Porto Alegre chegou a registrar 10,34% no acumulado dos últimos 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O primeiro lugar é de Curitiba, com 11,06%.
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Para evitar a debandada de clientes com a escalada desenfreada dos preços, lojas e estabelecimentos se obrigam a usar promoções como iscas, para não fazer o negócio naufragar na crise.
O consumidor que sabe aproveitar consegue até poupar comprando o mesmo que levava para casa no passado. Convictos a não gastarem mais do que podem, a dona de casa Beatriz Regina da Cruz, 61 anos, e o pedreiro Erandi Oliveira Martins, 64 anos, ambos de Porto Alegre, provam que o gosto da crise, para quem está de olhos abertos, não é apenas amargo.
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Bonita por menos
Moradora do Bairro Santa Tereza, Beatriz não abre mão de alisar os cabelos e tem economizado R$ 70 a cada escova progressiva. O procedimento que a dona de casa faz a cada três meses já chegou a custar R$ 150. Agora, é feito por R$ 80 no salão de Nadia Marquisio, no Bairro Glória. Para pagar, pode escolher se parcela no cartão de crédito ou se anota para pagar no final do mês, mordomia só de clientes antigas como ela.
- Eu corro para aproveitar essas promoções. É uma maravilha. Para a minha beleza, não tem crise. Não deixo de fazer - diz Beatriz.
Além do cabelo, toda terça-feira, Beatriz aproveita a promoção para fazer pé e mão por R$ 25. Esse é o dia de semana em que o tratamento de botox no cabelo e o corte feminino também estão mais em conta no salão da Nádia.
- Tenho que fazer essas promoções, se não, não tem como trabalhar. No final de agosto, vi que o movimento de clientes começou a cair muito e precisei fazer promoções - admite a cabeleireira.
Para Beatriz, agora, está valendo ainda mais a pena ficar bonita.
Churrasqueando e poupando
Imagine não abrir mão do churrasco de domingo e ainda poupar na compra da carne? O pedreiro e pintor Erandi Oliveira Martins, 64 anos, do Bairro Partenon, em Porto Alegre, conseguiu essa façanha. Ele poupou R$ 23 ao comprar a paleta suína na promoção de sexta-feira passada do mercado Zuffo.
Com preço médio do quilo entre R$ 13, conseguiu comprar por R$ 8,48 em um mercado do Bairro Partenon. Viu a promoção, percebeu que valia a pena e não perdeu tempo. Levou a peça inteira, com 5,3kg, para o churrasco do final de semana.
- Só peguei porque estava barato. Nunca comprei por este preço. Vou de porco e frango, carne de gado não está dando mais faz tempo - diz ele, admitindo que mudou de hábito há uns três meses, quando o preço da carne bovina ficou salgado demais para o seu bolso.
- A gente tem que comprar o que pode e correr atrás dos preços baixos. Eu gasto sola de sapato mesmo e está valendo a pena - conta Erandi.
Proprietário do mercado, Lauri Zuffo conta que baixar a quase preço de custo os valores do frango e da carne suína são suas estratégias para driblar a inflação. Assim, consegue atrair cliente para o seu negócio e estimulá-lo a comprar outros produtos, nestes, sim, terá mais lucro. Há pelo menos três meses, ele vem percebendo que o fluxo de pessoas no seu negócio está baixando.
- Se eu não fizesse alguma coisa, meu mercado ia estar vazio. Sinto que o cliente está cada vez mais receoso e pesquisando mais - diz ele.
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Vá com calma!
O economista e educador financeiro Everton Lopes alerta, porém, que, antes de se animar com toda promoção, o consumidor deve analisar se aquele produto é ou não uma necessidade.
- Apenas se for uma necessidade, a promoção é uma oportunidade de economia. Não dá para comprar só porque está barato - ensina Everton.
Em sua avaliação, Beatriz e Erandi fizeram o certo. Há diferenças de preços entre um estabelecimento e outro e quem pesquisar vai sair ganhando:
- A crise está violenta para todos nós, o comércio precisa vender e manter os empregos e, para isso, precisa baixar preços para estimular o consumo.
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Jeniffer Gularte
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