Durou pouco a carreira de todo-poderoso do deputado Eduardo Cunha. Ele pode até continuar na presidência da Câmara, mas a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o acusa de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, implodiu o homem da pauta-bomba. A partir do momento em que a denúncia for aceita, Cunha será réu e perderá os aliados de ocasião que se aproximaram dele apenas para enfraquecer o governo de Dilma Rousseff. Quem topará correr o risco do contágio agora que Cunha passou de valentão a acusado de corrupção?
Cunha diz que está sereno e que foi "escolhido" para denúncia
Bomba é a denúncia de Janot. Os procuradores que trabalharam na investigação estão convencidos de que as provas colhidas são irrefutáveis. E não são apenas os US$ 5 milhões da denúncia inicial do empresário Julio Camargo, mas US$ 40 milhões, segundo Janot. Até o julgamento, Cunha é inocente, mas perdeu as condições políticas de continuar na presidência da Câmara.
Não são apenas suposições que pesam contra ele, mas uma acusação do Ministério Público Federal de cobrança de propina e lavagem de dinheiro que envolveu até a Igreja Assembleia de Deus. Além de seguir a trilha do dinheiro, os investigadores encontraram evidências de que o deputado usou a estrutura da Câmara para achacar empresários.
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Dias antes da denúncia, o deputado começou a perder o apoio dos caciques do PMDB. Um deles chegou a dizer que os US$ 5 milhões mencionados por Julio Camargo eram apenas a ponta do iceberg. E lembrou que o presidente da Câmara ajudou na campanha de mais de uma centena de deputados, o que em parte explica a origem do seu poder.
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Cunha diz que foi escolhido como bode expiatório pelo procurador-geral, por orientação do governo, e reclama de nenhum petista ter sido denunciado até agora. Não há nenhuma evidência de que ele e o senador Fernando Collor (PTB) sejam os únicos, mas por terem sido os primeiros adotaram o discurso da vitimização.
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Do ex-presidente Collor não se conhecem todos os detalhes da denúncia, mas ele é acusado de corrupção passiva. Teria recebido nada menos do que R$ 26 milhões de propina e usado parte do dinheiro para comprar os carros de luxo apreendidos pela Polícia Federal. Depois de Cunha e Collor, outros virão. O PT e o PP, que têm políticos indiciados na Lava-Jato, não têm motivos para soltar rojões. Outras denúncias virão e a Lava-Jato, garantem policiais e procuradores, está longe do epílogo.
Opinião
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Rosane de Oliveira
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