O fim do mundo parecia próximo à medida que ficava claro, ontem, que nenhum acordo miraculoso de última hora evitaria o vencimento do prazo para que a Grécia fizesse o pagamento de 1,6 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional. "A Grécia entra num momento catastrófico", dizia, em Atenas, o apresentador da rede de TV CNN Richard Quest, com sua voz de Pato Donald. A palavra fatídica "moratória" (default, em inglês) pairava sobre o primeiro país desenvolvido a descumprir um compromisso com o FMI.
Passada a meia-noite em Bruxelas, no entanto, a cobertura da crise grega pelos principais sites parecia indicar um outro contexto. "Grécia descumpre prazo", afirmava o britânico Financial Times. "Grécia não paga ao FMI, aumentando a crise fiscal", dizia o americano The New York Times. "Crise grega: a Grécia não reembolsou o FMI", mancheteava o francês Le Monde. "Crise grega: uma tempestade se formando", previa a revista The Economist, também britânica.
Marta Sfredo: gregos combatem à sombra
Já não se falava em "moratória" - embora se trate exatamente de uma moratória, e das grandes -, e a CNN levava ao ar não os bedéis da austeridade, mas um de seus mais renomados críticos, o professor da Universidade de Brown Mark Blyth.
Nada disso significa que o pior tenha passado. À medida que o impasse grego se estende, aumentam os riscos para todos os envolvidos - o que, em termos de economia globalizada, inclui você e eu. Nem gregos nem credores deixarão a mesa de negociação.
Com fim do prazo para pagamento ao FMI, Grécia está em moratória
Assim, talvez valha a pena tratar do que realmente deveria estar em xeque: a validade da receita econômica aplicada na Grécia e em outros países desde 2012. Passados três longos anos, essa receita não apenas falhou em reduzir o endividamento como levou a mais recessão e ao maior calote dos 70 anos de história do FMI.
Eurogrupo se nega a estender plano de ajuda à Grécia
As autoridades europeias sabem disso. Podem até realizar sua maior meta imediata, a derrubada do governo grego. Mas não conseguirão desviar as atenções por mais tempo do fracasso retumbante da terapia mortal da austeridade.
Olhar Global
Luiz Antônio Araujo: depois da meia-noite
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Luiz Antônio Araujo
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