A Operação Radioatividade, subproduto da Lava-Jato desencadeado nesta terça-feira, mira em executivos de Angra 3, mas pode acertar políticos de grosso calibre. Basta que algum dos presos confirme que parte do dinheiro desviado de obras da estatal nuclear foi destinado a propina para parlamentares e ministros.
Pelo menos uma delação já coletada pelos investigadores fala nisso. O dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em depoimento a procuradores da República, em junho, que acertou pagamento de propina ao ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA). A intenção era garantir para sua empreiteira lugar nas obras em Angra 3, no Rio de Janeiro.
O pagamento ao senador Lobão teria sido de R$ 1 milhão. Pessoa disse ainda que o ex-ministro teria ficado de repassar doações eleitorais a outros líderes do PMDB. Entre os beneficiados por doações legais estaria o PMDB de Alagoas, controlado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
As obras de Angra 3 são executadas pelo consórcio formado pela UTC, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht, a partir de concorrência vencida em 2013. A usina está orçada em R$ 3,1 bilhões.
Alguns registros de doações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dizem os investigadores, corroboram o que Pessoa afirmou na delação. Mas a investigação deve prosseguir. A UTC, do delator Pessoa, repassou, por exemplo, R$ 1 milhão ao PMDB de Alagoas (terra natal de Renan Calheiros). Isso, em si, não prova suborno, mas apenas boas relações.
Na época da delação feita por Pessoa, a defesa do ex-ministro Lobão negou o recebimento de propina.