Em tempos de muito burburinho com o seriado Orange is The New Black, vídeos da Jout Jout no Youtube e ascensão de textos nas redes sociais denunciando ações machistas, o tema feminismo parece cada vez mais presente no cotidiano e nas mesas de bar Brasil a fora.
Muito se conquistou desde as primeiras caminhadas de mulheres brigando por seus direitos, ainda na década de 1960. E é na onda de conquistas recentes como a Lei Maria da Penha e a aprovação da Lei nº8.305/14, que coloca o feminicídio no rol de crimes hediondos, que vem a proposta de lei da deputada federal Moema Gramacho (PT-BA), apresentada na Câmara dos Deputados em março. A ideia de Moema é proibir que verbas oriundas dos cofres públicos sejam destinadas a festas que toquem músicas consideradas machistas. O projeto ainda não foi a votação na Câmara, mas é baseado em uma lei em vigor no próprio estado da Bahia.
- Estamos remexendo muito nesse assunto na internet. Mas sinto que estamos construindo muito pouco. Precisamos de uma reforma muito profunda na nossa cultura. No Sul isso é muito visível, temos uma cultura muito patriarcal. Está enraizado na gente - aponta Manuela Tecchio, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, membro de um coletivo que se propõe a tratar sobre machismo e autora de uma canção que já soma quase 100 mil reproduções no Soundcloud, plataforma online para publicação e reprodução de músicas.
Com frases como "Ela tá achando que eu sou trouxa, se namorando no espelho, com roupas que não cobrem as coxas e sorrindo de batom vermelho" e "Elogiar quando ela passa agora é coisa de malandro. Desse jeito não tem graça, você já está exagerando", Manuela, 20 anos, viaja por comentários até considerados sutis, mas que mostram um cotidiano ainda machista. Segundo levantamento do Ipea, entre 2001 e 2011, cerca de 15 mulheres morriam de forma violenta por dia no Brasil.
- A gente sempre escuta que não pode fazer isso por que é menina ou usar aquilo pela mesma razão. É velado, e as pessoas têm dificuldade em dar o nome certo para isso. E isso tem que acabar - crava Manuela.
A música "A louca" foi composta após uma dessas conversas em mesa de bar. Amigas de Manuela comentavam cenas que serviram de inspiração para ela - desde brincadeiras dos pais até um comentário mais maldoso do namorado. Ao chegar em casa, colocou tudo em um papel e mais tarde no violão.
Dali, saiu uma música que foi apresentada em público pela primeira vez em um dos saraus do Coletivo Jornalismo sem Machismo - com direito a coro do público - e que viralizou no último mês.
- A música e a arte sempre estiveram muito presentes na minha vida. Mas essa foi a primeira vez que tive a sensação de que tinha algo realmente a dizer. Escrevi a música de uma forma despretensiosa e agora recebo comentários de pessoas de outros estados que vêm me contar suas histórias - comenta Manuela.
Para a estudante, um dos grandes problemas é que o termo "feminismo" está impregnado com uma conotação ruim, até sendo visto como o oposto de machismo.
- O que nós queremos é igualdade de direitos, possibilidades, salários. Queremos não ter que repensar nossas roupas ou caminhadas à noite - explica.