
A investigação da Polícia Federal que resultou na prisão da cúpula das empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht deve ser endossada sexta-feira pelo Ministério Público Federal (MPF). Em anúncio programado para a tarde desse dia 24, em Curitiba, procuradores da República devem denunciar por corrupção em negócios com a Petrobras os presidentes da Andrade Gutierrez (AG), Otávio Marques de Azevedo, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht (ambos presos preventivamente na capital paranaense).
A tendência é que sejam denunciados também outros sete envolvidos em operações a Andrade Gutierrez, já indidicados pela PF: Rogerio Nora de Sá (presidente da Andrade Gutierrez até 2011), Flávio Lucio Magalhães (suposto operador de negócios da empreiteira), Antônio Pedro Campello de Souza (ex-diretor da AG), Paulo Roberto Dalmazzo (ex-executivo da AG), Elton Negrão de Azevedo Júnior (diretor-executivo da AG), Mário Frederico Mendonça Goes (empresário e suposto operador de esquema de corrupção entre a AG e a Petrobras), Lucélio Roberto Von Lehsten Goes (suposto operador, filho de Mário Goes) e Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do esquema.
Com relação à Odebrecht, provavelmente serão denunciados, além do presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, mais sete pessoas que mantêm relações com a empreiteira e foram apontadas pela PF como envolvidas em corrupção. Entre elas, Rogério Santos de Araújo (diretor da Odebrecht), Alexandrino de Salles Ramos de Alencar (diretor da Odebrecht), Márcio Farias da Silva (diretor da Odebrecht), César Ramos Rocha (diretor da Odebrecht), Celso Araripe de Oliveira (funcionário da Petrobras que seria beneficiário do esquema), Eduardo de Oliveira Freitas Filho (sócio-gerente da empresa Freitas Filho Construções Limitada e suposto operador do esquema) e João Antônio Bernardi Filho (ex-funcionário da Odebrecht).
Os empresários e intermediários na distribuição de propina serão denunciados pelos crimes de fraude a licitação, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica e organização criminosa.
A denúncia vai focar em superfaturamentos e subornos que teriam ocorrido para que as duas empreiteiras ganhassem licitação em obras da Refinaria Abreu e Lima, (Pernambuco) e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). O MPF sustenta que nesses locais a Andrade Gutierrez e a Odebrecht lideraram um cartel empresarial mantido com base em corrupção.
Será pedida a manutenção da prisão preventiva da maioria dos denunciados (especialmente dos dois presidentes das empresas) e o MPF pretende salientar as anotações encontradas no celular de Marcelo Odebrecht. Entre elas, menção a uso de "dissidentes da PF" para ajudar na defesa da empresa e a contestar a Lava-Jato. Deve ser abordada também o que os policiais consideram tentativa de eliminar provas: um bilhete de Marcelo Odebrecht ao advogado, recomendando "destrua e-mail sondas", numa referência à compra de sondas para exploração de petróleo.
A defesa da Odebrecht já afirmou que a expressão "destruir" foi usada no sentido de "neutralizar os argumentos" da acusação e não de destruição física de provas.
CONTRAPONTOS
O que disse a Odebrecht:
Por ocasião do indiciamento da cúpula da empresa no inquérito criminal da PF, a Odebrecht distribuiu nota: "Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivo e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação à Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras".
O que disse a Andrade Gutierrez:
Também por meio de nota após o indiciamento da cúpula da empresa, a Andrade Gutierrez informou que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Lava Jato. "A empresa reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja. A empresa reafirma ainda que não existem fundamentos ou prova que justifiquem a prisão e o indiciamento de seus executivos e ex-executivos".