Entenda por que não para de chover no Rio Grande do Sul
Tempo melhora, mas número de atingidos pela cheia sobe para 50 mil
Tamara, 23 anos, mudou-se temporariamente para a escola na manhã de segunda-feira levando, no colo, a filha Ana Luiza, de cinco anos. Dormiram na sala 11, localizada no segundo piso do prédio, que traz à porta um cartaz com os dizeres "Bem-vindo à turma da prof. Sandra".
- Estudei desde os sete anos nesta escola e, agora, estou tendo que voltar para cá para dormir - disse Tamara.
Tamara conforta a filha em uma das salas de aula da escola onde estudou
Foto: Débora Ely / Agência RBS
Ela divide o espaço enfeitado com bandeiras de São João no teto e desenhos pregados na parede com a mãe, o padrasto e a família de uma amiga.
- Tenho que vir todo o dia de manhã. Chegam as férias e a gente quer se divertir, ir no shopping, sair. E tem de vir para o colégio para dormir, ainda. É pior - desabafou a estudante Luana Gonçalves, nove anos, que estuda na instituição.
A doação de colchões e cobertores tornou a estadia dos afetados pela enchente menos penosa. Mas, em um abrigo, o que reina é o improviso: um chuveiro foi instalado às pressas em um dos banheiros da escola. E é o único do local. Para suprir os pertences perdidos, itens de higiene e remédios foram distribuídos pelos voluntários - que também se engajaram na cozinha.
VÍDEO: imagens aéreas mostram os alagamentos na Região Metropolitana
Governo decreta situação de emergência coletiva para cidades atingidas pela chuva no RS
Pela manhã, três mulheres preparavam o almoço: um panelão de arroz, outro de carne, feijão e aipim - todos, alimentos doados. Quem quisesse podia se servir de café recém passado ou até preparar um sanduíche. Foi tanto pão francês enviado para a escola que parte acabou repassada a moradores que seguiam ilhados em suas casas. Assim como a sopa de legumes preparada na segunda à noite, antes que estragasse.
Algumas das famílias levaram, também, seus animais de estimação. Enquanto um grupo de crianças brincava de jogar bola (na realidade, uma luva de plástico cheia de ar), sete cachorros se acomodavam nas nesgas de sol no pátio nesta manhã e alguns adultos fumavam pelos cantos, o sinal tocou. Era o prenúncio de que um período de aula chegaria ao fim se o prédio estivesse cheio de alunos - e não de desabrigados.
* Zero Hora

Dos sete aos 14 anos, Tamara Müller cursou o Ensino Fundamental na escola Olenca Valente, em Gravataí. Desde segunda-feira, quando a água inundou até a altura do joelho a casa que mora na Vila Rica, a instituição onde aprendeu a ler e escrever se tornou, também, o local onde terá de aprender a começar do zero. Em férias escolares, o colégio se tornou o lar temporário de pouco mais de cem pessoas no município da Região Metropolitana.
São cerca de 20 salas de aula transformadas em dormitórios: colchões sobre classes fazem as vezes de camas e cadeiras se tornam prateleiras para juntar os pertences resgatados da cheia. A escola é um dos quatro pontos de Gravataí que viraram abrigos municipais em função da enchente. A cidade somava, na tarde de terça-feira, 180 desabrigados por conta do transbordo do rio e de dois arroios. Trata-se daquelas pessoas que não dispõe da casa de parentes ou amigos para passar as noites até que a água baixe - ou que simplesmente preferem recorrer a um abrigo. Em todo o Estado, 2 mil estavam, no fim da manhã, na mesma situação.
