Quem lida com moradores de rua em Caxias do Sul é pressionado pela sociedade, e essa cobrança aumenta no inverno. O Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (POP Rua) mantém abordagens diurnas e noturnas, e facilita o encaminhamento para abrigos. No frio, a população tem o costume de comunicar onde estão os sem-teto e exigir providências.
Nem sempre as equipes conseguem convencer homens ou mulheres a sair da rua. A resposta é simples: sem contato com instituições é possível saciar o vício em drogas ou álcool. Dentro de uma casa de acolhimento, isso não é permitido.
- Há uma dúvida entre nós: se é a dependência química que leva a pessoa para a rua ou se é a rua que joga a pessoa para as drogas - conta o educador social Vinicius Lagni Homem.
INFOGRÁFICO: quem são e onde vivem os moradores de rua em Caxias do Sul
As equipes realizam cerca de 100 abordagens semanais, e poucos aderem ao serviços oferecidos. Os profissionais também não entram em terrenos particulares para não transparecer que o poder público é conivente com a invasão. Assim, os sem-teto são convidados a vir na calçada para avaliações de rotina, o que nem sempre é atendido.
- Caxias do Sul tem a cultura de não ver as pessoas passando frio, vivendo na rua. Então dá a impressão que estamos lavando as mãos. É complicado também quando chegamos num lugar que não somos conhecidos - pondera Fabiana.
Muitas famílias já questionaram a permanência de um grupo de homens às margens da BR-116, ao lado de um mercado na Rua Serafim Terra, perto da entrada do bairro Cruzeiro. É uma pequena comunidade de 10 a 15 pessoas. Valdir Wagner, 42, é uma espécie de gerente do espaço, deixa claro que não pode acumular sujeira ou fazer fazer baderna, mas nem sempre é ouvido. É um dos últimos moradores de rua ao estilo tradicional, que optou pela vida ao ar livre.
O homem tem casa nas proximidades, mas reside na calçada há 12 anos. É muito tempo, mas não se importa. Prefere estar companhia dos amigos do que viver na solidão. O patrimônio dele é uma bolsa com poucas roupas e uma bíblia. Apesar da insistência das equipes de abordagem, ele não suporta viver numa casa de acolhimento porque se sente preso. Os outros ocupantes da calçada sobrevivem catando material e revendendo numa recicladora ao lado.
- Sou sozinho. Na rua já fui agredido, mas tenho com quem conversar, o que comer. Me sinto feliz é claro, senão teria ido embora - afirma Valdir.
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Adriano Duarte
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