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A primeira frase que Johann Wolfgang von Goethe ouviu ao encontrá-lo no café da manhã em Erfurt, na Prússia, em 1808, foi: "O senhor é um homem".
Num ensaio intitulado Napoleão, ou o Homem do Mundo, Ralph Waldo Emerson lembra o episódio em que, exilado na Ilha de Santa Helena, ele repreendeu uma dama que tratara trabalhadores sobrecarregados com descaso: "Respeite o fardo, madame".
Ele foi o modelo escolhido por Julien Sorel, o ambicioso herói de O Vermelho e o Negro, de Stendhal.
Em Um Negócio Tenebroso, Balzac coloca em sua boca uma frase fatídica ao recusar perdão para um grupo de conjurados na véspera da Batalha de Jena ("Eles certamente são inocentes, mas amanhã, 30 mil vão morrer").
Conta-se que, numa das primeiras audições da Quinta Sinfonia, de Beethoven, ao ouvir a abertura de quatro notas, alguém ergueu-se dizendo "O Imperador! O Imperador!".
Mas ninguém superou Victor Hugo, filho de um general da Grande Armée, ao apelidar de "Napoleão, o Pequeno" um dos sobrinhos Bonaparte, alçado ao poder por um golpe de Estado em 1851.
Nem mesmo Karl Marx, nascido três anos depois de Waterloo, que, a propósito do mesmo golpe, escreveu que a história só se repete como farsa.
A grandeza de Waterloo não está no vulto dos vitoriosos, mas na enormidade do derrotado.
Ao comentar uma das duas grandes biografias de Napoleão lançadas neste ano, o historiador britânico Mark Mazower se pergunta se, dois séculos depois de sua morte, os dois ditadores do século 20 mais frequentemente associados ao Corso - Stalin e Hitler - merecerão interesse de milhões de leitores.
É difícil saber.
Mas já hoje, quando um grande personagem tenta se reerguer de um revés e fracassa, ninguém compreende se ouvir algo como "Ele teve a sua Ardenas".