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A notícia de que os credores haviam feito uma proposta de última hora à Grécia teve um efeito tranquilizador sobre as bolsas no início desta terça-feira.
Coube ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, transmitir a oferta, por telefone, ao premier Alexis Tsipras, na noite de segunda-feira.
O otimismo, no entanto, não resiste a uma análise mais detalhada do conteúdo da proposta.
Na realidade, nesse caso, "proposta" é apenas um eufemismo para ultimato.
Juncker sugeriu que Tsipras aceite as medidas listadas no sábado pela Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Além disso, exigiu que o governo defenda o "sim" no referendo de domingo.
Uma fonte europeia citada pela Agence France Presse (AFP) reconheceu que a solução de último minuto não muda a proposta anterior, mas inclui "uma explicação bastante pedagógica do que está sobre a mesa".
Pedagogos do mundo inteiro deveriam se insurgir contra essa tentativa de confundir uma atividade tão nobre e relevante com arrogância e chantagem. Se não existia uma "pedagogia do opressor" em contrapartida à "pedagogia do oprimido" proposta pelo brasileiro Paulo Freire, a Troika acaba de inventá-la.
Se a proposta transmitida por Juncker tem alguma sombra de pedagogia, é porque serve para mostrar o que as autoridades europeias entendem por "negociação".
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O que os credores estão oferecendo a Atenas é a rendição incondicional. Deveriam, pelo menos, utilizar o nome adequado. Mas falta-lhes decência para tanto.
Deve ser entendida da mesma maneira a declaração da chanceler alemã, Angela Merkel, de que existe uma "porta aberta" no diálogo com a Grécia. Só pode estar se referindo à porta horizontal que se abre no patíbulo sob os pés do condenado à forca.
Resumindo, o que a Troika está tentando fazer não é manter a Grécia na zona do euro, evitar um contágio generalizado no Mediterrâneo ou salvar a moeda comum. O verdadeiro objetivo de Berlim e Bruxelas é se livrar do governo antiausteridade de Alexis Tsipras.
A Troika deseja que o plebiscito do próximo domingo se torne um referendo sobre a permanência do atual premier no cargo. Nas próximas horas, seus porta-vozes, cada vez mais convencidos da importância da "pedagogia", farão declarações bem mais explícitas nesse sentido.
Isso abriria caminho para um "verdadeiro recomeço" entre a Grécia e a zona do euro.
Um recomeço que, no caso grego, ocorreria a partir das cinzas.