Há mais do que a lembrança amarga da Ucrânia por trás da apreensão do Kremlin com os acontecimentos em Erevan. Na segunda metade dos anos 1980, foi na pequena República da Armênia que sopraram pela primeira vez os ventos que acabariam por desmontar a União Soviética.
Vladimir Putin era um anônimo coronel da KGB em serviço na Alemanha Oriental quando os armênios protagonizaram os primeiros protestos massivos - e pacíficos - contra os massacres de armênios por azeris no enclave de Nagorno-Karabakh. Dois anos depois, o Muro de Berlim ruiria, e a vida de Putin e de seus companheiros de farda jamais seria a mesma.
Hoje, a República da Armênia continua sob o guarda-chuva de Moscou, especialmente porque não há perspectiva melhor de acordo com nenhum vizinho, a começar pela Turquia e pelo Irã, onde importantes minorias armênias enfrentam dificuldades históricas. De qualquer maneira, a eclosão de um movimento de indignação contra aumento de tarifas de energia elétrica fugiu ao cálculo do presidente Serzh Sarkisian e de seu aliado Putin.
São os próprios manifestantes de Erevan os primeiros a negar qualquer conexão entre suas reivindicações e a incitação ocidental. Mas é evidente que, dado o atual grau de tensão entre a Rússia e o Ocidente, qualquer movimento capaz de criar dores de cabeça para Moscou será visto com bons olhos por Washington, Londres e Berlim. Resta saber se Putin aprendeu as lições da queda de Viktor Yanukovich, que custou à Ucrânia - mas também à Rússia e a seus vizinhos europeus - uma desestabilização que pode durar décadas.
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