Prezado I.: assisti a um vídeo do The New York Times sobre os combates em torno do aeroporto de Donetsk, Ucrânia. Estive lá em março de 2014, e até alguns meses conseguia identificar a área em fotos e filmes. Desta vez, os atiradores dos dois lados me pareceram estar atirando no meio do deserto.
O que mais me impressionou foram os motivos para guerrear elencados por legalistas e rebeldes. Um entrevistado das forças leais a Kiev diz que, se os separatistas não forem derrotados, em breve, haverá tropas russas na Lituânia e na Estônia. Um rebelde afirma que sempre se considerou ucraniano, mas que, desde o processo revolucionário em Maidan, as pessoas em Kiev passaram a agir de maneira estranha e ele já não sabe o que pensar.
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O fato de a guerra civil já ter completado um ano obrigará as pessoas comuns nela envolvidas a buscar respostas, por mais desagradáveis que sejam. Imagino como terá sido desde o ano passado a vida das pessoas com quem conversei em Donetsk: os dois policiais, ambos chamados Serguei, que fizeram questão de fazer selfies com a camiseta canarinho da Seleção; Tanya, a administradora que temia os efeitos da instabilidade política sobre a economia; Oleg, o ativista desesperado porque os tempos difíceis levaram sua mãe a comer ração para porcos.
Sei que você, como muitos de seus compatriotas, ainda crê que os separatistas travam uma guerra defensiva contra a intervenção americano-europeia defendida pelo governo de Kiev. Trata-se, na minha opinião, de uma ilusão.
A guerra na Ucrânia está sendo feita para que ninguém mais se atreva a tocar no balanço de poder no Leste Europeu. Isso atende aos propósitos dos líderes dos dois lados. Aos Sergueis e Tanyas, resta o chumbo.
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